Por Martin Quin Pollard e Jan Strupczewski
PEQUIM/BRUXELAS (Reuters) - Autoridades chinesas que organizam uma grande feira comercial em Xangai retiraram um discurso da cerimônia de abertura do presidente do Conselho Europeu que criticaria a "guerra ilegal" da Rússia na Ucrânia e pediria a redução da dependência comercial da UE em relação à China, disseram diplomatas.
O vídeo pré-gravado por Charles Michel deveria ser um dos vários de líderes mundiais e chefes de organizações internacionais, incluindo o presidente chinês Xi Jinping, na abertura da China International Import Expo (CIIE) na sexta-feira, afirmaram três diplomatas europeus à Reuters.
Os diplomatas, que não podem ser identificados devido à sensibilidade do assunto, disseram à Reuters que ficaram surpresos com o fato de o discurso ter sido removido.
"O presidente Michel foi convidado a discursar no 5º Fórum Hongqiao/CIIE em Xangai", disse à Reuters Barend Leyts, porta-voz de Michel. "Conforme solicitado pelas autoridades chinesas, nós de fato fornecemos uma mensagem pré-gravada que acabou não sendo mostrada. Nós abordamos isso através dos canais diplomáticos normais."
Organizadores do evento, o Ministério do Comércio da China e o governo da cidade de Xangai não responderam aos pedidos de comentários da Reuters. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China negou conhecimento do assunto.
"Não estou ciente da situação", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, em uma coletiva de imprensa regular em Pequim nesta terça-feira. "Eu não posso comentar sobre isso."
Outros dignitários que falaram na cerimônia depois de Xi incluíram a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio e os presidentes de Indonésia, Sri Lanka e Belarus, segundo o site oficial da expo.
Alexander Lukashenko, de Belarus, é um forte aliado do presidente russo, Vladimir Putin, e seu país já recebeu milhares de tropas russas antes e durante o que Moscou chama de "operação especial" na Ucrânia.
Foco na Rússia e no comércio
O discurso do presidente do Conselho Europeu seria fortemente crítico da "guerra ilegal da Rússia contra a Ucrânia" e diria que a Europa está aprendendo "lições importantes" com isso, de acordo com trechos do discurso fornecidos por diplomatas da UE.
A Europa tem sido excessivamente dependente da Rússia para combustíveis fósseis, levando a um desequilíbrio comercial, diria Michel.
"Na Europa, queremos equilíbrio em nossas relações comerciais... para evitar dependências excessivas", afirmaria ele, segundo as fontes. "Isso também vale para nossas relações comerciais com a China."
Michel também pediria que a China fizesse mais para acabar com o derramamento de sangue na Ucrânia.
A China sempre se recusou a criticar a agressão da Rússia, que devastou cidades em toda a Ucrânia e matou milhares de soldados e civis desde que iniciou a invasão em 24 de fevereiro.