Por Kevin Yao e Sue-Lin Wong
PEQUIM (Reuters) - A economia da China cresceu ao ritmo mais lento desde 2009 no primeiro trimestre, mas um salto na dívida parece estar alimentando a recuperação da atividade industrial, do investimento e dos gastos das famílias na segunda maior economia do mundo.
São boas notícias no curto prazo, dizem economistas, mas muitos temem que isso possa marcar um retorno ao velho receituário utilizado durante a crise financeira, quando Pequim tirou sua economia de um período de desaceleração por meio de imensos estímulos, em vez de reformas estruturais.
Dados oficiais publicados na sexta-feira mostraram que o Produto Interno Bruto (PIB) da China cresceu 6,7 por cento no primeiro trimestre na comparação com o ano anterior, ligeiramente abaixo dos 6,8 por cento do quarto trimestre, como esperado.
No entanto, outros indicadores mostraram que os novos empréstimos, vendas no varejo, produção industrial e investimentos em ativos fixos ficaram acima do previsto.
Embora alguns analistas digam que os dados são evidência de que a desaceleração econômica atingiu o fundo do poço, alguns advertem que o primeiro trimestre de 2015 teve um início similarmente positivo para então desembocar em uma quebra das bolsas mais tarde no ano.
"O que isso mostra é uma estabilização da economia antiga", disse Raymond Yeung do ANZ, citando a recuperação da produção industrial e do investimento em ativos fixos.
"Eu continuaria cauteloso sobre o crescimento... O dado de 6,9 por cento do ano passado foi sustentado por uma grande contribuição de serviços financeiros e o crescimento forte recente dos empréstimos e do crédito e a retomada recente de ofertas iniciais de ações sugerem que isso ainda pode ter uma grande contribuição".
A Agência Nacional de Estatísticas disse em entrevista à imprensa em Pequim nesta sexta-feira que, embora os principais indicadores econômicos tenham mostrado mudanças positivas, "a pressão negativa não deve ser subestimada".
A agência não distribuiu os dados do PIB na comparação trimestral como fazia no passado, dizendo que precisava de mais tempo para calculá-los.
Os mercados financeiros globais reagiram bem aos números, mas as bolsas domésticas recuaram levemente, com analistas afirmando que os dados fortes sugerem a possibilidade de um ritmo mais lento de afrouxamento monetário.
RECUPERAÇÃO DA DEMANDA
Pequim espera que uma recuperação - mesmo que alimentada pelo crédito - possa ser sustentada para evitar a necessidade de mais estímulos agressivos que possam reinflar bolhas de ativos e dificultar a requalificação de empresas chinesas para subirem na cadeia de valor.
Os bancos chineses concederam 1,37 trilhão de iuanes (211,23 bilhões de dólares) em novos empréstimos líquidos em março, quase o dobro dos empréstimos de 726,6 bilhões de iuanes do mês anterior, sugerindo renovado apetite por investimento entre as corporações chinesas.
O crescimento das vendas do varejo acelerou para 10,5 por cento em março de 10,2 por cento, ligeiramente acima das expectativas, enquanto a expansão do investimento em ativos fixos subiu para 10,7 por cento na comparação anual no primeiro trimestre de 10,2 por cento, superando as expectativas do mercado de 10,3 por cento.
O crescimento da produção industrial saltou 6,8 por cento, de 5,4 por cento, surpreendendo os analistas que esperavam aumento de 5,9 por cento na comparação anual.
A agência de estatísticas também apontou que a taxa oficial de desemprego continuou baixa em março, em cerca de 5,2 por cento, apesar de medidas para reduzir a capacidade em indústrias como carvão e aço.
(Reportagem adicional de Jessica Macy Yu e Samuel Shen, e Nathaniel Taplin em Xangai)