Por Jessica Bahia Melo
Investing.com - Em meio a fatos recentes de quebras dos bancos Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank, mas com atividade econômica resiliente, mercado de trabalho aquecido e a continuidade das pressões inflacionárias, os juros americanos sobem novamente. Após o anúncio de que as fed funds foram elevadas em 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira, 22, para a faixa de 4,75%-5,00%, economistas e analistas ressaltam, no entanto, que o Fed incluiu na pauta esse receio com a situação bancária, mas continua a reforçar o compromisso com o controle inflacionário – sem usar no comunicado a expressão “aumentos contínuos” para os juros, no entanto, visando que o indicador de inflação convergisse à meta de 2%.
Na visão de Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, o comunicado oficial foi ponderado, marginalmente dovish. Para Sanchez, o termo utilizado para indicar algum novo ajuste na política monetária soou menos forte do que o do comunicado anterior.
“O parágrafo adicionado sobre a crise de alguns bancos americanos e globais também nosso soou como marginalmente dove, com o intenso monitoramento, abrindo espaço para incertezas, mas já verbalizando que a crise resultará na restrição de crédito e pesará sobre atividade e inflação”, detalha.
Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, destaca que o comunicado indica que o Fed reconhece os eventos recentes no sistema bancário, com possíveis efeitos de aperto no mercado de crédito, se mostrando como alerta a essas implicações. “Por outro lado, reconhece que o mercado de empregos segue aquecido, com desemprego baixo, esse é o contraponto no efeito inflacionário”.
Celso Pereira, diretor de investimentos da Nomad, acredita que os juros nos EUA devem subir novamente em 2023, principalmente caso a inflação no país não responda com queda nos próximos meses. “A autoridade monetária ressaltou que dispõe de mecanismos de balanço para conceder liquidez a bancos que se encontrem diante de problemas pontuais de liquidez”, completa.
Ainda que as quebras de dois bancos tenham acendido um alerta, ainda é cedo para avaliar a dimensão desse problema e, por isso, o Fed agiu corretamente em seguir a política monetária contracionista, segundo Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Reserach, que estima finalização do ciclo de alta neste ano com juros na faixa até 5,25%.
“Quando olhamos os últimos dados de inflação, tanto o CPI quanto o PCE não foram animadores. Os núcleos, os preços de serviços, moradia e alimentos continuam elevados. Há um processo de desinflação em curso, mas ainda é preocupante pois ainda não dá sinais claros de convergência para a meta de longa prazo, o que dificulta o trabalho do Fed”.
A partir de agora, com os problemas no sistema bancário, o Fed pode viver um trilema, diz Sung: controlar os preços, manter a estabilidade do sistema financeiro e minimizar choques no crescimento da economia e no emprego.