Por Anna Flávia Rochas
SÃO PAULO (Reuters) - Um apagão orquestrado atingiu pelo menos oito Estados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e o Distrito Federal na tarde desta segunda-feira, após o responsável pela operação do sistema elétrico brasileiro ter exigido que diversas distribuidoras de energia fizessem um corte seletivo da carga.
Ainda não havia informações sobre os motivos que levaram o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a ordenar o corte da carga de energia. Além de ter causado o blecaute, o incidente derrubou as ações de empresas do setor na bolsa de valores paulista.
O Ministério de Minas e Energia disse que compete ao ONS dar mais detalhes sobre a ocorrência. O ONS, por sua vez, disse que se pronunciará em breve sobre o assunto.
O maior corte individual divulgado até o momento ocorreu na Eletropaulo, que distribui energia na Grande São Paulo, de 700 megawatts (MW). Nem todas as empresas informaram o volume de carga de energia afetado.
Na capital paulista, as operações da Linha Amarela do metrô foram atingidas por problema na alimentação de energia pouco depois das 14h30, que causou parada de trem entre as estações Luz e República. A linha é utilizada por cerca de 700 mil pessoas diariamente.
O corte seletivo de carga ocorreu dentro do denominado Esquema Regional de Alívio de Carga (Erac), sistema de proteção coordenado pelo ONS que determina às concessionárias de energia elétrica cortes em estágio, com o objetivo de preservar o fornecimento do sistema, informou a CPFL Energia.
O incidente acontece num momento de baixo nível dos reservatórios de hidrelétricas e de crescente temor de um racionamento de energia no país, diante do baixo nível de chuvas e temperaturas recordes nas regiões em que ficam importantes usinas geradoras de eletricidade e centros de consumo de energia.
Segundo a Climatempo, o fim de semana teve temperaturas elevadas em todo país, registrando recordes de calor em diversas capitais brasileiras, algo que se repetiu nesta segunda-feira. A capital paulista, por exemplo, registrou 36,6 graus de temperatura máxima, maior de 2015 e a quarta maior para um mês de janeiro na história das medições, em 1943.
Altas temperaturas motivam o maior consumo de eletricidade, diante do uso de equipamentos de refrigeração.
Também foi prejudicado o abastecimento de energia em Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo e Goiás. As distribuidoras gradualmente restabeleceram o fornecimento de luz em áreas atingidas, que não teria alcançado locais prioritários como hospitais e indústrias.
Houve corte total de 800 MW em áreas de concessão da CPFL no interior de São Paulo e no Rio Grande do Sul, de 320 MW na área da Copel (PR) e de 500 MW na concessão da Light (RJ).
Na sexta-feira, boletim do ONS reduziu para 18,5 por cento a estimativa de nível dos reservatórios das hidrelétricas do Sudeste do país no fim de janeiro, diante da perspectiva de menos chuva que o esperado anteriormente para este mês.
CORTE NUCLEAR
Na área de geração elétrica, a Eletronuclear, empresa do grupo Eletrobras, informou que a usina nuclear Angra 1 foi desligada automaticamente às 14h49 desta segunda por uma "forte queda na frequência do Sistema Interligado Nacional (SIN)".
"A usina operava normalmente quando houve a oscilação da frequência. No momento, os técnicos estão trabalhando para restabelecer o sincronismo da unidade ao SIN", informou a empresa.
MERCADO ACIONÁRIO
As ações de empresas elétricas aceleraram a queda na Bovespa no fim da tarde, após as primeiras notícias sobre o corte de energia.
O índice que reúne papéis do setor IEE recuou 4,61 por cento, aos 25.314 pontos, terminando o pregão perto da mínima do dia.
Entre as companhias, Cemig, Light e CPFL entre 6,4 e 7,3 por cento.
(Reportagem adicional de Alberto Alerigi Jr. e Eduardo Simões.; Texto e edição de Cesar Bianconi)