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Inflação fica "confortável" sem choque adicional, diz BC, mas prefere não dar sinal explícito sobre juros

Publicado 07.08.2018, 09:54
© Reuters. Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn
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Por Marcela Ayres

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central reforçou nesta terça-feira que o cenário de inflação continuará favorável se não houver choques adicionais, mas apontou que o quadro é de incerteza e que, portanto, o melhor é não dar sinalizações explícitas sobre seus próximos passos sobre a trajetória dos juros básicos.

"Todos (os membros) avaliaram que, na ausência de choques adicionais, o cenário inflacionário deve revelar-se confortável", trouxe a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. "Entretanto, o maior nível de incerteza da atual conjuntura gera necessidade de maior flexibilidade para condução da política monetária, o que recomenda abster-se de fornecer indicações sobre os próximos passos", acrescentou.

Na semana passada, o BC manteve a Selic em 6,50 por cento ao ano, ressaltando que a retomada da atividade econômica será ainda mais gradual do que a esperada antes da greve dos caminhoneiros, e que o aumento da inflação decorrente da paralisação vinha se mostrando temporário.

Especialistas leram a mensagem como um sinal de que o BC não deve mexer nos juros tão cedo, em meio à alta ociosidade da economia e expectativas de inflação ancoradas. Na pesquisa Focus mais recente feita pelo BC junto a uma centena de economistas, foram mantidas as previsões de que a Selic permanecerá em seu menor nível histórico neste ano, subindo a 8 por cento em 2019.

"A perspectiva de que não haverá deterioração das expectativas de inflação para 2019 nos próximos meses e que, dissipados os efeitos da paralisação no setor de transportes, a atividade econômica continuará se recuperando de forma bastante gradual", trouxe o banco Bradesco (SA:BBDC4) em relatório, para quem a Selic seguirá em 6,50 por cento até o final de 2018.

Na ata, o BC destacou novamente que a atuação da política monetária se dará exclusivamente com foco na evolução das projeções e expectativas de inflação, do seu balanço de riscos e da atividade econômica.

"Choques que produzam ajustes de preços relativos devem ser combatidos apenas no impacto secundário que poderão ter na inflação prospectiva. É por meio desses efeitos secundários que esses choques podem afetar as projeções e expectativas de inflação e alterar o balanço de riscos", informou o BC.

"Esses efeitos podem ser mitigados pelo grau de ociosidade na economia e pelas expectativas de inflação ancoradas nas metas. Portanto, não há relação mecânica entre choques recentes e a política monetária", acrescentou.

Sobre a inflação, o BC afirmou que as projeções para julho e agosto corroboram a visão de que os efeitos dos choques advindos da greve dos caminhoneiros devem ser passageiros.

Por outro lado, ressaltou que o risco de continuidade do processo de ajustes e reformas na economia brasileira e o risco associado a deterioração do cenário para economias emergentes "permanecem em níveis mais elevados".

A próxima reunião do Copom acontece em 18 e 19 de setembro, antes do primeiro turno das eleições presidenciais, em 7 de outubro. O pleito, que promete ser o mais acirrado em décadas, ganha cada vez mais espaço no radar dos investidores diante sobretudo do desequilíbrio fiscal do país.

Na ata, o BC voltou a dizer que a aprovação de reformas na economia é fundamental "para a sustentabilidade do ambiente com inflação baixa e estável, para o funcionamento pleno da política monetária e para a redução da taxa de juros estrutural da economia". E que a percepção de continuidade ou não dessa agenda afeta as expectativas e projeções macroeconômicas.

"O que é muito binário aqui é o resultado da eleição (de outubro). A gente pode ir para um cenário tranquilo ou muito complicado, que exigiria alta de juros até o final do ano. Esse é o grande evento determinador no futuro dos juros", avaliou a sócia responsável pela área de Macroeconomia da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, acrescentando que, mesmo assim, o quadro inflacionário é confortável e segue prevendo a Selic em 6,5 por cento até o segundo semestre de 2019.

Sobre o cenário externo, o BC apontou que "houve certa acomodação das condições financeiras nos mercados internacionais, mas o cenário se mantém mais desafiador".

© Reuters. Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn

Após o câmbio mostrar trégua em julho, depois de forte alta do dólar sobre o real nos meses anteriores, o BC também ponderou que o grau de repasse cambial depende de vários fatores, como o nível de ociosidade na economia e a ancoragem das expectativas de inflação. E que seguirá acompanhando essas medidas.

(Edição de Patrícia Duarte)

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