Por Gabriel Burin
(Reuters) - O Brasil provavelmente registrou leve deflação em junho em termos mensais devido a custos mais baixos de combustíveis e alimentos, reforçando os argumentos a favor de um potencial ciclo de afrouxamento monetário já no próximo mês, mostrou uma pesquisa da Reuters.
A provável deflação, a ser confirmada pelo IBGE na terça-feira, seria a primeira desde setembro, último mês de um breve período de queda de preços ao consumidor.
Um arrefecimento da inflação chamaria a atenção como uma pista para tendências futuras em outras grandes economias, possivelmente permitindo ao Banco Central começar a desfazer sua postura agressiva de política monetária.
O IPCA provavelmente caiu 0,10% em junho sobre maio, de acordo com a estimativa mediana de 13 economistas entrevistados de 5 a 7 de julho. Em 12 meses, a inflação deve ter desacelerado ainda mais, para 3,20%, menor patamar desde setembro de 2020.
"O que está pressionando para baixo o número principal é uma queda nos preços dos combustíveis e do gás de cozinha, além de um arrefecimento contínuo dos custos de alimentos no atacado devido à safra recorde no primeiro trimestre", disseram analistas da 4intelligence.
Os motoristas estão vendo alívio nos postos de gasolina após uma série de cortes no preço da gasolina pela Petrobras (BVMF:PETR4).
Enquanto isso, os preços dos alimentos permanecem sob pressão de baixa, já que o Brasil experimenta um "boom" agrícola que agora está se tornando uma ameaça para o domínio das exportações de milho dos EUA e inundando a Argentina com soja, à medida que a safra do país vizinho diminui.
Olhando para o futuro, a perspectiva de inflação na maior economia da América Latina continua melhorando lentamente, com o consenso do mercado apontando para uma leitura de 4,98% ao final de 2023, de acordo com o boletim semanal Focus, do BC.
Mas isso ainda ficaria acima da meta oficial de 3,25% -- com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo --, no que se tornaria o terceiro ano consecutivo em que o objetivo é desrespeitado. Na semana passada, o governo fixou a meta em 3% para 2026, em linha com as metas para 2024 e 2025.
A decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de almejar uma taxa de inflação relativamente baixa no longo prazo, aliada a uma surpreendente valorização do real neste ano, pode reforçar a moderação dos preços ao consumidor e aproximar sua variação da meta.
O principal risco é a evolução do déficit primário sob os planos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de expandir os gastos sociais, principalmente depois que a Câmara dos Deputados adiou para agosto a votação do arcabouço fiscal --visto como um compromisso fundamental para manter as despesas sob controle.