Bagdá, 30 ago (EFE).- O vice-presidente dos Estados Unidos,
Joseph Biden, chegou hoje ao Iraque para se reunir com dirigentes
iraquianos e comparecer à cerimônia da retirada das tropas de
combate americanas, que ocorre em meio ao temor de uma escalada da
violência.
Biden se reunirá amanhã, data oficial do fim das operações de
combate, com os responsáveis iraquianos para reiterar o compromisso
a longo prazo dos EUA com o Iraque, segundo a Casa Branca e o diário
governamental iraquiano "Al-Sabah".
Em suas reuniões com os dirigentes dos diferentes blocos
políticos iraquianos, entre eles o primeiro-ministro interino, Nouri
al-Maliki, Biden buscará impulsionar o estagnado processo de
formação de um novo Governo.
Além disso, participará em 1º de setembro da cerimônia na qual o
Exército americano passará o comando militar do país às forças
iraquianas.
A retirada americana é acompanhada com interesse pelo povo
iraquiano, que teme um aumento da violência devido à falta de
preparo do Exército, algo que foi reconhecido no último dia 11 pelo
chefe do Estado-Maior iraquiano, general Babakar Zebari.
Além disso, al-Maliki advertiu há dois dias que a rede terrorista
Al Qaeda e os seguidores do ex-partido governante Baath, do falecido
ditador Saddam Hussein, têm planos de lançar novos ataques.
Em sua sexta viagem ao Iraque desde que assumiu seu cargo, Biden
quer focar a conversa na questão da instabilidade política. Ele se
reunirá em Bagdá com al-Maliki e com o presidente iraquiano, Jalal
Talabani, assim como com o líder da coalizão Al Iraqiya, Ayad
Allawi, e o dirigente da Aliança Nacional Iraquiana, Ammar al-Hakim.
O analista político Omar Nabili acredita que a retirada americana
pode mandar uma mensagem aos dirigentes iraquianos que devem assumir
sua responsabilidade e deixar de lado suas diferenças.
"A retirada é um momento importante na vida dos iraquianos que
devem se aproveitar dela para estabelecer um Mapa do Caminho (da
paz), a fim de impulsionar o processo de consenso nacional",
assinalou Nabili.
Os partidos iraquianos não conseguiram ainda um acordo para criar
um novo Gabinete após as eleições de 7 de março passado, nas quais
venceu a Al Iraqiya, com 91 dos 325 cadeiras do Parlamento, frente
ao agrupamento de al-Maliki, que ficou em segundo lugar com 89
assentos na Câmara.
Mas nas ruas parece preocupar mais o tema da segurança. A
população não esconde o temor diante de uma possível escalada da
violência após a retirada americana, embora se mostrem divididos
quanto às vantagens e desvantagens dessa presença.
"Temos medo e pouca confiança no futuro, mas queremos que as
forças de ocupação vão embora, sem importar os perigos para a
próxima etapa", afirmou a cidadã Umm Samih à Agência Efe, muito
crítica com o papel desempenhado pelas forças dos EUA desde a
invasão do Iraque em 2003.
Para ela, os americanos "tomaram tudo e não deixaram outra coisa
senão o caos, a guerra, os assassinatos e o exílio, após dar
passagem livre às organizações armadas em todas as partes".
Também se mostra muito crítico Ibrahim Samir al-Obeidi, de 40
anos. Ele declarou à Efe que ele respeitava os Estados Unidos "antes
que ocupassem o Iraque, mas isso mudou ao ver o mau trato que os
soldados davam".
Já Ahmed Abbas discorda dos críticos. Ele trabalhou durante
quatro anos como tradutor das tropas dos EUA na província de Salah
ad-Din e considera que os americanos não eram ocupantes mas "amigos
que vieram libertar o Iraque da ditadura de Saddam Hussein".
Amanhã, os EUA encerrarão oficialmente as missões de combate no
Iraque, embora o último batalhão bélico já tenha saído do país no
último dia 19.
Restam agora menos de 50 mil soldados americanos no Iraque, que
permanecem para trabalhos de treinamento dos iraquianos. Eles ficam
até dezembro de 2011, quando os EUA se comprometeram a retirar
totalmente sua presença militar no país árabe. EFE