Paris, 11 out (EFE).- A quantidade de gente que vive abaixo da linha de pobreza na França aumentou em 628 mil na última década, conforme o primeiro relatório do Observatório das Desigualdades dedicado à pobreza do país e apresentado nesta quinta-feira.
Em 2006 a França tinha 4,4 milhões de pessoas pobres e em 2016 esse número passou para 5 milhões, o que se traduziu no aumento do índice de pobreza de 7,3% para 8%. O levantamento traz exemplos práticos dessa situação e revela que 7,6% da população declarou não poder comprar um segundo par de sapatos, enquanto 4,8 milhões de pessoas tiveram que recorrer a ajuda alimentar em 2015.
Por outro lado, no mesmo período, a riqueza nacional cresceu em 170 bilhões (R$ 716 bilhões) de euros, o equivalente a 7%.
"Não é um paradoxo. É a consequência de uma distribuição de renda desigual", afirmou o presidente do Observatório das Desigualdades, Noam Leandri.
Conforme o estudo, a situação melhorou a partir de 2011, quando começou uma queda no número de pobres que, nos cinco anos seguintes, se traduziu em uma redução de 106 mil.
O Observatório situa na linha de pobreza pessoas que vivem com 855 euros líquidos por mês (aproximadamente, R$ 3.500), o equivalente à metade do salário médio do país. Outros relatórios situam a linha de pobreza em 60% do salário médio, que na França equivaleria a 1.026 euros (R$ 4.300) líquidos mensais.
Levando em conta este indicador, que tem como referência o Instituto Nacional da Estatística e Estudos Econômicos (INSEE), o número de pessoas consideradas pobres passa de 5 milhões a 8,8 milhões, e a taxa de pobreza de 8% a 14%. Embora a França tenha um dos índices de pobreza mais baixos da Europa (3,1% da população vive em "pobreza severa" contra 6,4% da média europeia), o aumento da pobreza na primeira década do século rompeu com uma histórica tendência de baixa.
Conforme Anne Brunner, uma das autoras do relatório, o contexto atual permite falar de um "otimismo moderado" por causa da melhoria econômica e a diminuição do desemprego, que recuou 0,7% entre 2016 e 2017. Mesmo assim, segundo ela, a tendência é para um crescimento econômico lento, que estabiliza a pobreza, mas que não permite criar postos suficientes de trabalho.
Para o diretor do Observatório, Louis Maurin, o plano contra a pobreza aprovado pelo presidente francês, Emmanuel Macron, dotado de 8 bilhões de euros (quase R$ 35 bilhões) em quatro anos, "não está à altura" e "não ataca a raiz do problema". Segundo ele, seria preciso "lutar contra o desemprego e a precariedade laboral", ligados diretamente à pobreza, e oferecer respostas concretas em matéria de saúde, educação e moradia para evitar um eventual aumento da tensão social.