Investing.com - A probabilidade de o PIB do Brasil nos próximos anos ser melhor do que o esperado pelo mercado é alta na avaliação de Daniel Leichsenring, economista-chefe da Verde Asset, gestora do investidor Luis Stuhlberger. Em café da manhã promovido pelo Andbank nesta quinta-feira (22) em São Paulo, Leichsenring apresentou os fundamentos das economias brasileira e global que vão propiciar a melhora na dinâmica econômica interna nos próximos anos.
O economista argumenta que, de acordo com a literatura econômica mundial, quase 90% da produção industrial cresce no mundo (exceção nos EUA) quando o dólar perde valor em relação a outras moedas. E o Brasil é um dos maiores beneficiados, com o crescimento da economia sendo de 2 a 4 pontos percentuais acima do esperado nesse cenário.
O dólar já caiu 9,6% em relação real em 2023, porém opera em alta de 0,31% a R$ 4,7779 às 11h03.
Com a queda do dólar, a economia brasileira seria beneficiada também com a combinação de um arcabouço fiscal que, “se não é bom, veio melhor do que o esperado”, melhora a trajetória da dívida pública nos próximos anos em meio a um cenário de prêmio de risco fiscal mais baixo, inflação e taxa de juros menores e real valorizado.
“O problema fiscal é menos intenso do que se espera”, projeta o Leichsenring , que diz ter ficado surpreso em relação ao limite de crescimento de até 2,5% dos gastos ao ano. “Nos governos Lula anteriores, o crescimento do gasto foi de 8-9% ao ano, esperava que o novo arcabouço sugeriria alta de 5-6% ao ano nas despesas públicas”.
Acrescenta-se ao cenário interno as reformas realizadas nos governos Temer e Bolsonaro, como a mudança nas legislações trabalhistas, previdenciária, do setor de saneamento básico, a autonomia do Banco Central e os menores repasses de crédito subsidiado pelo BNDES. Mas, Leichsenring faz uma ressalva:
“Se as condições externas permitirem, apesar das contrarreformas que o atual governo pode implementar”, relembra o economista, apontando que o crescimento do PIB não veio logo após a aprovação das reformas devido a um cenário internacional conturbado, como pandemia de Covid-19, problemas nas cadeias globais de suprimento e a guerra da Ucrânia.
Recessão nos EUA
O economista projeta que a recessão nos EUA deve acontecer até o fim do ano, ou no máximo no começo de 2024. “O aperto atual de crédito às empresas e às famílias é semelhante às recessões de 1990, 2001 e 2008”. Além disso, há uma queda nas horas trabalhadas por trabalhador nos EUA e indicação de recessão pelo ISM da manufatura e de serviços, embora este último esteja ainda resiliente devido à poupança dos consumidores americanos construída com a ajuda fiscal durante a pandemia.
Embora a economia dos EUA entre em recessão, a probabilidade de o dólar cair em relação ao real e outras moedas é grande. “Dólar parece caro para os desafios adiante”, analisa Leichsenring ao apontar que qualquer moeda está no maior nível de desvalorização nos últimos 40 anos em relação à moeda americana.
Diante do cenário de recessão e inflação menor nos próximos meses nos EUA, a pergunta do mercado será: “quando o Federal Reserve vai reduzir a taxa de juros”. Isso significa que haverá mudança de fluxo nos EUA para outros lugares e setores que apresentam retornos atraentes aos investimentos, o que justifica parcialmente o otimismo com o Brasil, segundo o economista. "A não ser que o S&P 500 caia de 4.500 para 3 mil pontos", sugerindo ponderação no risco.