Investing.com – Após críticas do governo quanto ao patamar definido como meta pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), reunião nesta quinta-feira, 29, deve tratar do tema. No entanto, a expectativa consensual é de que o parâmetro deve ser mantido, mas com ajuste no prazo de referência, que sairia do sistema de ano-calendário para uma meta contínua. Na visão do economista Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central, a mudança de narrativa defendida pelo governo ocorre devido à proximidade do ciclo de afrouxamento monetário.
Em entrevista exclusiva ao Investing.com Brasil, Volpon explicou que mudar a meta neste momento poderia não ser adequado, pois possivelmente desancorar as expectativas com um tema mais polêmico poderia resultar no efeito contrário, atrasando o corte nos juros, em sua visão, o que o governo não quer neste momento.
Confira a entrevista:
Investing.com – O CMN vai fazer alguma alteração, no seu entendimento? Como vê uma possível mudança, no número, intervalo ou período?
Tony Volpon – Parece ter formado um certo consenso, a equipe econômica entendeu que alteração da meta seria contraproducente. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vem defendendo uma meta continua. Para os economistas de mercado, que apoiam essa mudança, não teria um impacto negativo nesse momento, é a expectativa de todos para esta reunião. Seria uma surpresa muito grande se isso não acontecesse. A expectativa é de que o CMN ainda apresente a metodologia para que todos possam checar a se a meta estaria sendo cumprida ou não.
No início desse ano, eu acreditava que tinha uma chance maior de elevar a meta de inflação, mas acho que de lá para cá, pelo fato que há um corte de juros iminente, mesmo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não apoie a meta de 3%, acho que talvez haja um julgamento tático. Talvez isso seja revisto no futuro. Todo mundo entendeu que mexer nisso no curto prazo não seria positivo, pois acabaria colocando em risco a queda nos juros, e é o recuo que o governo quer agora.
Inv.com – Em repercussão aos últimos documentos divulgados pelo Comitê de Política Monetária (Copom), houve críticas de analistas sobre divergências entre o tom do comunicado e da ata, com perspectiva para cortes indicados somente nesta última. Como avalia essa comunicação do Comitê?
Volpon – Eu achei estranho, não tenho explicação sobre por quais motivos isso aconteceu. Uma parte importante de discussão foi indicada somente no fim da ata, mas não no comunicado. A maioria acreditava que seria bom já comunicar uma tendência em agosto, não sei por que isso não foi incluído no comunicado. Um argumento do Banco Central poderia ser que o comunicado é muito curto, não é possível colocar tudo, mas acho que teria sido muito bom colocar essa informação no documento. Acho um pouco estranho, não foi uma boa decisão. Todo mundo olhou para aquilo e ficou um pouco surpreendido. Isso mexe nas expectativas do mercado, teve uma falha de comunicação.
Inv.com – Se o seu cenário-base se concretizar, quando avalia que deve iniciar a queda na Selic e até que patamar neste ano?
Volpon – O início de cortes do Copom deve ocorrer em agosto, com 0,25 ponto percentual. Acho que o Copom acelera para 0,50 ponto, repetindo até o final do ano. No entanto, tendo a ter uma visão mais otimista sobre o crescimento econômico brasileiro nos próximos anos e argumentaria para uma taxa neutra um pouco maior. De um lado, há crescimento que tem surpreendido positivamente, de outro fica todo o questionamento sobre qual será a política fiscal, se será cumprido o que está no novo arcabouço, além do cenário global. Esses são os fatores que vão determinar o ciclo.
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