Por Guillermo Parra-Bernal
SÃO PAULO (Reuters) - O rebaixamento pela Standard and Poor's do rating do Brasil para grau especulativo aprofundará a dificuldade de algumas empresas que são grandes tomadoras de financiamentos e já se deparam com dificuldades perante vários credores e com a recessão econômica mais acentuada em 25 anos.
Investidores impedidos de possuir bônus com grau especulativo podem se desfazer de cerca de 20 bilhões de dólares em dívida brasileira se uma segunda agência de classificação de risco seguir a medida da S&P e tirar o grau de investimento brasileiro, disse o estrategista da JPMorgan Securities Pedro Martins.
Para tomadoras de empréstimos de grande porte como a Petrobras (SA:PETR4), mesmo o impacto de curto prazo da decisão da S&P pode ser significativo, especialmente com a turbulência do rebaixamento sobre os mercados de câmbio e ativos de risco.
A Petrobras enfrenta o peso de cerca de 140 bilhões de dólares em dívida --maior patamar de qualquer petroleira global-- e seus custos de financiamento subirão enquanto os termos de refinanciamento também ficam mais duros, disseram investidores.
"Isso pode muito bem representar o fim de uma era na qual o governo e companhias tomavam financiamentos baratos em um ritmo exuberante", disse Alexandre Pavan Povoa, que administra 400 milhões de reais em ativos para a Canepa Asset Manaegement, no Rio de Janeiro.
O Brasil obteve ratings de grau de investimento em 2008, solidificando sua emergência como um motor econômico que se beneficiava do boom global de commodities e da demanda crescente da China.
Durante esse período, a Petrobras, a Vale, bancos e indústrias pagavam custos de financiamento de cerca de 2 pontos percentuais acima dos rendimentos comparáveis do Tesouro norte-americano.
Esses dias são parte do passado. Para a Petrobras, o spread agora é de mais de 6 pontos percentuais, enquanto o da Vale é de mais de 3 pontos percentuais.
Neste ano, as ofertas globais de bônus de empresas brasileiras já caíram mais de 80 por cento, para cerca de 5,7 bilhões de dólares, segundo dados do Credit Suisse.
Esse número agora pode cair mais, à medida que fundos se esquivam dos emissores menos confiáveis do Brasil e companhias mantém distância dos mercados de dívida antes de um esperado aumento do juro nos Estados Unidos.
Além de tirar do Brasil o grau de investimento, a S&P sinalizou que pode colocar o país ainda mais para dentro do território especulativo, ao manter a perspectiva negativa para a nota de crédito brasileira, o que significa que um novo rebaixamento pode ocorrer no curto prazo.