Um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado em 27 de agosto mostrou que a cidade do Rio de Janeiro e o distrito de Atafona, em São João da Barra (RJ), devem ter o aumento do nível do mar em até 21 centímetros até 2050. De 1990 a 2020, a alta foi de 13 centímetros. Eis a íntegra, em inglês (PDF – 723 kB).
A simulação foi calculada por uma ferramenta desenvolvida por cientistas da Nasa (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço dos EUA) que incorpora as projeções de aumento do nível do mar feitas pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) e considera cenários de aquecimento global de 1,5°C a 5°C.
O documento também apresenta as projeções para importantes áreas costeiras de integrantes do G20, grupo que integra as 20 maiores economias do mundo, em um cenário de aquecimento de 3°C da temperatura do planeta. Segundo a ONU, trata-se de uma conjuntura “aproximadamente consistente com um caminho de políticas atuais”.
A maioria das grandes cidades costeiras do bloco deve ter um incremento adicional do nível do mar de mais de 15 cm até 2050. Entre elas, 6 cidades devem ter um aumento potencial entre 24 a 41 cm.
A cidade norte-americana de Nova Orleans deve registrar o maior aumento nos próximos anos: o nível do mar pode subir de 38 a 46 cm.
“Grande parte da população mundial, das atividades econômicas, da infraestrutura crítica e dos sítios de patrimônio cultural mundial está concentrada perto do mar: a zona costeira de baixa elevação [que está no máximo 10 metros acima do nível médio do mar] é responsável por cerca de 14% do PIB global e abriga quase 11% da população mundial, cerca de 900 milhões de pessoas, um número projetado para ultrapassar 1 bilhão até 2050″, afirma o relatório.
O cenário é pior para países insulares do oceano Pacífico, onde 90% da população vive a menos de 5 quilômetros da costa e metade das infraestruturas está a menos de 500 metros do mar.
Apesar de representarem só 0,02% das emissões globais, os países estão especialmente expostos aos efeitos diretos da subida das águas causada pelas mudanças climáticas. De acordo com o documento, partes do Pacífico registraram elevação de 15 centímetros do nível do mar, ante a média global de 9,4 centímetros.
“A humanidade está tratando o mar como um esgoto. A poluição plástica está sufocando a vida marinha. Os gases de efeito estufa estão causando aquecimento dos oceanos, acidificação e aumento acelerado do nível do mar”, escreveu o secretário-geral da ONU, António Guterres, em seu perfil no X (ex-Twitter) em 27 de agosto.
Segundo o relatório da ONU, o derretimento de geleiras e o aquecimento global são as principais causas do problema. “De 2006 a 2018, o derretimento do gelo terrestre contribuiu para cerca de 45% da mudança observada no nível médio global do mar, enquanto a expansão da água do mar contribuiu com 39%”, diz o documento.
PAÍSES QUE PODEM DESAPARECER
De acordo com as Nações Unidas, pessoas que vivem em zonas costeiras de países densamente povoados como Bangladesh, China, Índia, Holanda e Paquistão estarão em risco e podem sofrer grandes inundações nas próximas décadas.
Grandes cidades próximas do mar em todos os continentes também correm risco, dentre elas:
- Bangkok (Tailândia);
- Buenos Aires (Argentina);
- Lagos (Nigéria);
- Londres (Reino Unido);
- Mumbai (Índia);
- Nova York (EUA);
- Xangai (China).
Pequenas ilhas com áreas de terra baixas estão sob ameaças mais críticas. A elevação do nível do mar e outros impactos climáticos já estão forçando pessoas em nações do oceano Pacífico, como Fiji, Vanuatu e as Ilhas Salomão, a se mudarem.
Tuvalu, um país insular na Oceania, poderá desaparecer nos próximos 30 anos, mesmo em um cenário de aquecimento global moderado, diz o estudo. A ilha de Kiribati também já sofre com os impactos das mudanças climáticas. Um dos motivos é a baixa elevação das ilhas do Pacífico em relação ao nível do mar: a maioria está somente 1 ou 2 metros acima.
Nas Ilhas Salomão, por exemplo, 50% das casas já se perderam, além de ilhotas, por causa da erosão costeira e ao aumento no nível do mar. Ciclones tropicais são responsáveis por 76% das catástrofes na região das ilhas do Pacífico e trazem ventos extremos, ondas, tempestades intensas, precipitação prolongada e inundações costeiras.