NOVA YORK (Reuters) - Em Buffalo, ainda não nevou este ano. Um jornal de Duluth, Minnesota, noticiou que a temperatura estava 40 graus acima de zero, não abaixo. E em Miami banhistas estão ficando dentro de casa durante o que já é o terceiro dezembro mais chuvoso na história local. O que está acontecendo com o clima?
É o fenômeno chamado El Niño, que está ocorrendo agora com as temperaturas de águas do oceano mais elevadas nas porções leste e central do Pacífico, próximas ao Equador. Seus efeitos deixarão o Nordeste dos EUA mais quente que o usual, o Meio-Oeste mais seco e o Oeste e o Sul mais úmidos.
E os cientistas têm um recado para todos que estão se preparando para os eventos de um dos fenômenos El Niño mais forte já registrado: acostumem-se.
Enquanto o El Niño oscila em um ciclo mais ou menos anual, outra dinâmica na temperatura das águas do Oceano Pacífico, conhecida como a Oscilação Decadal do Pacífico (PDO, na sigla em inglês), tem o potencial de acelerar o aquecimento global e aumentar a severidade dos episódios de El Niño, disseram cientistas.
A última vez que a PDO esteve, como pode estar agora, em um prolongamento positivo, ou fase quente, correspondeu a dois dos El Niños mais fortes já registrados.
"Quando você realmente tem um El Niño monstro, isso pode ser suficiente para virar a PDO em uma nova fase por uma década ou mais", disse William Patzert, climatologista do Laboratório de Propulsão de Jatos da NASA, na Califórnia. "Mantenha os olhos abertos porque talvez estejamos em uma transição decadal."
Antes de janeiro de 2014, o mundo passou por um período de 15 anos de valores majoritariamente negativos para a oscilação do Pacífico de acordo com dados mantidos por Nathan Mantua, cientistas atmosférico do Instituto Conjunto de Estudos da Atmosfera e Oceanos, da Administração Atmosférica e Oceânica Nacional dos EUA (NOAA, na sigla em inglês).
Aquele período viu apenas fenomênos El Niño moderados. Durante os 21 anos antes dele, os valores da oscilação do Pacífico foram majoritariamente positivos, um período que coincidiu com os El Niños de 1982/83 e 1997/98, dois dos maiores já registrados.
Agora, cientistas estão começando a imaginar se o período de 15 anos de relativa calma do El Niño está chegando ao fim, marcando o início de uma era mais quente, com mais tempestades, semelhante às de 1980 e 1990.
"É mais provável que teremos uma mudança de fase e permaneceremos em território positivo", disse Kevin Trenberth , do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica dos EUA em Boulder, Colorado, observando que enquanto uma transição decadal estava longe de ser uma garantia, as chances a favor são de aproximadamente 2 para 1.
No Brasil, o El Niño pode trazer, entre outros efeitos, chuvas acima da média no Sul e tempo mais seco no Nordeste.
(Por Luc Cohen)