Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - Os preços do boi gordo no Brasil atingiram as mínimas de 2015 e voltarão a subir até o fim do ano, aproximando-se novamente da máxima histórica registrada em abril, disseram especialistas, destacando a menor oferta de animais nesta época do ano em função do período seco no Brasil central.
As altas nas cotações, no entanto, deverão ser limitadas pela desaceleração do consumo de carne bovina no mercado doméstico.
"A gente deve estar muito perto de observar o fundo do poço para 2015. Daqui para a frente, os preços devem se fortalecer devido à menor disponibilidade de animais", projetou a diretora da consultoria Agrifatto, Lygia Pimentel.
O preço da arroba do boi gordo no mercado paulista, referência para o mercado nacional, atingiu um recorde histórico de 150,65 reais em meados de abril, segundo o indicador Esalq/BM&FBovespa.
Desde então, os preços recuaram, acumulando queda de quase 8 por cento ante máxima do ano, pressionados pelo menor consumo dos brasileiros e por uma oferta relativamente mais folgada de animais, após meses recentes de chuvas que ajudaram na manutenção dos pastos. A arroba atingiu 139,03 reais em 12 de agosto, menor valor do ano.
Com as pastagens --onde a maior parte do gado brasileiro é criada-- exauridas pelo período sem chuvas do inverno, os pecuaristas estão finalizando o ciclo de oferta de animais aos frigoríficos. A partir de agora, a disponibilidade deve ser cada vez menor.
"As indústrias que possuem contratos a termo para receber gado em julho, agosto até setembro estão usando essa oferta para evitar entrar no mercado. Mas tem uma hora que essa oferta começa a ficar mais enxuta. Quando elas voltarem ao mercado, a chance de ocorrer valorização da arroba no mercado à vista é grande", disse o analista da Informa Economics FNP Aedson Pereira.
Segundo ele, os preços do boi gordo podem voltar, em setembro e outubro, para perto dos patamares de abril.
Na estimativa da Agrifatto, o preço médio da arroba bovina deve ser de 146 reais na média do segundo semestre, mas com grandes chances de fortes oscilações em função de ajustes de oferta e demanda --as compras da indústria podem ser estimuladas em alguns momentos pelos negócios de exportação.
CONSUMO INTERNO
A alta nos preços do boi nos próximos meses deverá ser limitada por um menor consumo de carne bovina no mercado interno, em um momento de inflação em alta e crescimento do desemprego.
"A alta dos preços vai ser modulada pelo consumo. O cenário de consumo é bastante ruim", destacou o analista Alex Santos Lopes, da Scot Consultoria.
O consumo médio de carne bovina no Brasil deverá cair para 36,5 kg por habitante em 2015, ante 41,5 kg em 2014, segundo projeção da Agrifatto.
"Está havendo uma substituição muito forte da carne bovina pelo frango", afirmou Lygia Pimentel, citando uma proteína alternativa que está em média 65 por cento mais barata atualmente.