Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O Palácio do Planalto montou uma operação desde a última segunda-feira para tentar convencer Geddel Vieira Lima a pedir demissão do cargo de ministro da Secretaria de Governo, mas ele resistiu até o vazamento do depoimento do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero à Polícia Federal, envolvendo o presidente Michel Temer, disseram à Reuters fontes palacianas.
Desde o final de semana o governo sabia do teor do depoimento de Calero e que o ex-ministro havia entregue à Polícia Federal gravações das suas conversas com Geddel, com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, o secretário de assuntos jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha, e com o próprio presidente, segundo as fontes.
Assessores próximos a Temer e a Geddel, inclusive o ministro da Casa Civil, tentavam convencer o ministro a pedir demissão, sem sucesso. "Geddel tentava preservar a situação dele. Com as denúncias de envolvimento na Lava Jato, ele acaba caindo na mão do (juiz) Sérgio Moro, como todo mundo", disse uma das fontes sobre o agora ex-ministro, também envolvido em denúncias da Lava Jato.
O envolvimento do presidente na crise causada pelo ministro, no entanto, foi a gota d'água. Depois de saber que Calero o tinha acusado de pressioná-lo também para resolver o problema do empreendimento em que Geddel adquiriu um imóvel em Salvador, o próprio presidente concluiu que seu ministro não teria condições de ficar.
Temer, no entanto, não pediu ao ministro seu cargo. "Não é o estilo dele. Ele sempre espera que a pessoa conclua que não tem condições de continuar", disse uma das fontes. Assessores próximos a Temer o convenceram a sair.
Na manhã desta sexta-feira, uma semana depois do explosivo pedido de demissão de Calero, Geddel telefonou ao presidente e informou que mandaria sua carta de demissão por e-mail.
Um dos homens fortes do governo Temer, amigo do presidente há 30 anos, Geddel foi um dos primeiros peemedebistas graúdos a defender a saída do PMDB do governo de Dilma Rousseff e um dos mais fortes articuladores do impeachment da ex-presidente.
Apesar do jeito por vezes truculento, tem bom trânsito no Congresso, especialmente entre os deputados. O Planalto agora luta para encontrar um nome para substituí-lo, mas ainda não há nenhuma decisão.
Esta tarde, Temer embarca para São Paulo. O presidente tinha duas agendas públicas este final de semana, mas possivelmente serão canceladas, adiantou uma das fontes.