Por Thomas Escritt
HAIA (Reuters) - Juízes da Organização das Nações Unidas (ONU) absolveram o nacionalista sérvio Vojislav Seselj de crimes de guerra e contra a humanidade na quinta-feira, um veredicto chocante que representou um incentivo a seu Partido Radical Sérvio, que é anti-União Europeia, às vésperas das eleições de abril.
Os promotores haviam acusado Seselj de incentivar o ódio étnico com sua retórica exacerbada no início das guerras dos anos 1990 que se seguiram à divisão da então Iugoslávia em sete Estados, um conflito que cobrou 130 mil vidas.
Em certa ocasião, Seselj discursou a tropas sérvias e disse: "Nem um único ustasha deve sair de Vukovar vivo", usando um termo pejorativo para os croatas em 1991 na cidade do leste da Croácia junto ao rio Danúbio na fronteira com a Sérvia. Mas a corte da ONU determinou que isso não equivaleu a uma incitação.
Não é possível descartar que tais discursos tenham sido feitos "em um contexto de conflito e que almejavam fortalecer o moral das tropas de seu lado, ao invés de conclamá-las a não poupar ninguém", disse o juiz-presidente Jean-Claude Antonetti.
Na sede do Partido Radical Sérvio em Belgrado, os apoiadores de Seselj comemoraram o desfecho surpreendente do julgamento na ONU --o próprio Seselj acreditava que iria receber uma pena de 25 anos de prisão.
Pesquisas de intenção de voto mostram que seu partido está pouco acima da margem de 5 por cento necessários para voltar ao Parlamento no mês que vem, depois de quatro anos fora do Poder Legislativo.
"Esta absolvição me deixa sem palavras", disse Vesna Bosanac, chefe de um hospital de Vukovar sitiado por milicianos pró-Seselj em 1991. "A única coisa que o espera é o julgamento de Deus."
O veredicto de quinta-feira pode ser um constrangimento para o governo de direita do primeiro-ministro sérvio, Aleksandar Vucic, ex-aliado de Seselj que abandonou seu nacionalismo em favor da tentativa de obter a filiação da Sérvia à União Europeia.