Por Lais Martins
SÃO PAULO (Reuters) - O consumo de eletricidade no Brasil deve crescer em 2017 após dois anos consecutivos de queda em meio à recessão do país, mas o agravamento da crise política começa a reduzir projeções de especialistas quanto à evolução da demanda, disseram à Reuters comercializadores de energia e consultorias.
Enquanto a estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) previa em maio uma alta de 2,1 por cento no consumo em relação a 2016, alguns já começam a trabalhar com cenários menos otimistas, como a Thymos Energia, que espera elevação de 1,5 por cento a 2 por cento.
"As expectativas que nortearão este aumento ainda estão incertas. Isso porque a continuidade da crise econômica e política, com os consumidores residenciais assolados por redução salarial, alto endividamento e efeitos das bandeiras tarifárias, inibe o consumo", avaliou a Thymos em nota à Reuters.
Na comercializadora FDR Energia, o pessimismo é um pouco maior, e a projeção foi revisada após os últimos acontecimentos políticos no Brasil, para crescimento de apenas 1 por cento no ano.
"Já estava apresentando uma retomada gradativa para o segundo semestre e agora na medida que esse crescimento não se realiza, o consumo fica estagnado, mês após mês vai descolando da nossa expectativa", disse o diretor da FDR, Erik Azevedo.
A comercializadora Ecom Energia também revisou seus números após as acusações dos donos da empresa de alimentos JBS (SA:JBSS3) contra o presidente Michel Temer, que renovaram as preocupações com a cena política desde meados de maio. A empresa espera alta de 1,58 por cento na carga de energia do Brasil em 2017, ante estimativa oficial de 2,7 por cento da EPE.
A carga representa a soma do consumo de eletricidade com as perdas de energia na rede.
"Em nossa visão, os recentes acontecimentos políticos impactarão de maneira negativa a retomada do crescimento econômico prevista para o segundo semestre, e consequentemente resultarão num consumo de energia menor que o esperado", disse a Ecom em nota.
Para a elétrica CPFL Energia (SA:CPFE3), ocorrerá uma alta de 1,76 por cento no consumo frente a 2016, com impacto positivo do agronegócio. A projeção leva em consideração um crescimento de 0,5 por cento no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2017.
No último boletim Focus, do Banco Central, divulgado na segunda-feira, especialistas estimaram alta de 0,4 por cento do PIB brasileiro neste ano.
No acumulado de janeiro a maio, o consumo de eletricidade apresentou alta de 0,8 pro cento na comparação com os mesmos meses de 2016, segundo dado da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
SEM UNANIMIDADE
Apesar de algumas previsões já apontarem para crescimento do consumo de eletricidade abaixo do estimado anteriormente em 2017, algumas comercializadoras têm mantido seus números, com expectativa de que os últimos acontecimentos não tenham um impacto tão imediato no setor elétrico.
O presidente da comercializadora Comerc, Cristopher Vlavianos, projeta uma alta de quase 3 por cento no consumo, devido a uma perspectiva de estabilização da demanda industrial e cenários melhores nos segmentos comercial e residencial.
A Safira Energia também acredita que eventuais impactos dos problemas políticos brasileiros não terão efeito instantâneo.
Segundo o analista de mercado da Safira, Lucas Rodrigues, o consumo deve crescer 2,1 por cento no ano com ajuda da demanda de clientes no mercado livre de eletricidade, onde grandes consumidores podem negociar contratos diretamente com geradores e comercializadoras.
Por outro lado, há quem aposte até em queda no consumo neste ano. A comercializadora Bolt Energias esperava um crescimento de 0,5 por cento no consumo em 2017, mas após as novas notícias da crise política o número foi revisto, e a empresa agora espera queda de 1,5 por cento na comparação com o ano passado.
(Reportagem adicional de Luciano Costa)