Por Eduardo Simões
SÃO PAULO (Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro disse nesta sexta-feira que a "tendência" é editar um decreto de garantia da lei e da ordem (GLO) para enviar militares das Forças Armadas para combaterem queimadas na Amazônia e o comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, aproveitou cerimônia em Brasília ao lado de Bolsonaro para alertar "incautos" e disser que a força está pronta para defender a floresta.
As declarações do presidente e do chefe do Exército vêm em um momento de crescente pressão internacional sobre o Brasil por causa do aumento dos incêndios florestais na Amazônia, com líderes do G7, grupo que reúne algumas das economias mais desenvolvidas do mundo e do qual o Brasil não faz parte, afirmando que discutirão a questão em reunião neste fim de semana.
"Aos incautos que insistem em tutelar os desígnios da brasileira Amazônia, não se enganem: os soldados do Exército de Caxias estarão sempre atentos e vigilantes, prontos para defender e repelir qualquer tipo de ameaça", disse o general em discurso durante cerimônia do Dia do Soldado com a presença de Bolsonaro em Brasília.
Em meio ao aumento das tensões geradas pelas queimadas na Amazônia, outros líderes do G7 apoiaram a ideia levantada na véspera pelo presidente da França, Emmanuel Macron, de colocar o assunto na reunião de cúpula do grupo no fim de semana.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, disse que "não poderia concordar mais" com Macron, que na véspera classificou o caso de "emergência internacional" e chamou a Amazônia de "nossa casa" no Twitter.
O premiê britânico, Boris Johnson disse estar "profundamente preocupado" com as queimadas na Amazônia e defendeu que o assunto seja debatido no G7, enquanto Steffen Seibert, porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que ela apoia os planos de Macron e classificou os incêndios como "assustadores e ameaçadores".
Bolsonaro, que disse que a ideia de Macron de discutir a Amazônia no G7 expressa uma "mentalidade colonial", emitiu despacho determinando que todos seus ministros atuem para detectar os focos de incêndio e combater as queimadas.
O presidente se reúne com ministros nesta sexta-feira para tratar do aumento das queimadas na floresta e disse pela manhã, ao deixar o Palácio da Alvorada, que a "tendência" é enviar militares para ajudar no combate aos incêndios na região.
"A tendência é essa, a gente fecha agora de manhã. Tendência", disse Bolsonaro aos repórteres quando indagado se assinaria um decreto de GLO para enviar militares à floresta.
O presidente tem agendada uma reunião em Brasília com os ministros Fernando Azevedo (Defesa), Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Jorge Antonio de Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência), além do secretário-executivo da Casa Civil, José Vicente Santini.
Outras lideranças mundiais também se manifestaram, como o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, e o presidente do Chile, Sebastián Piñera, que disse ter conversado com Bolsonaro e com o presidente da Bolívia, Evo Morales, para oferecer no combate aos incêndios.
A situação levou o governo a lançar uma ofensiva diplomática para tentar mostrar ao mundo que defende a Amazônia e distribuiu uma circular de 12 páginas para todos os postos diplomáticos como subsídios para a defesa do governo. [nL2N25I1P4]
Pelo Twitter, o chanceler Ernesto Araújo também rebateu a pressão internacional sobre o Brasil na área ambiental e disse que ocorre devido ao que avaliou como sucesso do governo Bolsonaro.
"Por que o Brasil está sendo alvo de uma campanha internacional tão feroz e injusta no tema ambiental? Simples. Porque o governo do presidente Bolsonaro está reerguendo o Brasil. A 'crise ambiental' parece ser a última arma que resta no arsenal de mentiras da esquerda para abafar esse fato", afirmou.
AMEAÇA À SOBERANIA
A pressão internacional por causa do aumento das queimadas gerou reações de autoridades brasileiras. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente e que será em breve indicado para a embaixada do Brasil nos Estados, disse ter um "recado" a Macron ao retuitar um vídeo em que o presidente francês é chamado de "idiota".
O ex-comandante do Exército e assessor do Gabinete de Segurança Institucional, general Eduardo Villas Boas, disse que Macron usa o Exército francês para ameaçar o Brasil.
"Com uma clareza dificilmente vista, estamos assistindo a mais um país europeu, desta vez a França, por intermédio do seu presidente Macron, realizar ataques diretos à soberania brasileira, que inclui, objetivamente, ameaças de emprego do poder militar", escreveu no Twitter.
"A questão ultrapassa os limites do aceitável na dinâmica das relações internacionais. É hora do Brasil e dos brasileiros se posicionarem firmemente diante dessas ameaças, pois é o nosso futuro, como nação, que está em jogo."
(Reportagem adicional de Lisandra Paraguassu, em Brasília)