BRASÍLIA (Reuters) - Ao dar o nono voto a favor da legalidade do inquérito das fake news, o ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), mandou uma série de recados indiretos ao governo Jair Bolsonaro nesta quinta-feira.
Celso de Mello disse que no Estado Democrático de Direito não há espaço para "voluntário e arbitrário descumprimento de decisões judiciais".
Alvo de críticas de Bolsonaro e aliados, Celso de Mello disse que o cumprimento de decisões judicial revela o dever de "fidelidade à Constituição" e que não fazê-lo pode implicar em crime de responsabilidade do presidente e de ministros. Esse tipo de crime, se for julgado procedente, importa em perda de mandato.
Segundo o magistrado, o Supremo, ao intervir para conter excessos de poder, faz isso de forma "plenamente legítima" ao que conferiu a Constituição.
MÁQUINA
O decano justificou que o inquérito --cujo objetivo é investigar a divulgação de notícias falsas e ameaças a ministros do STF-- revelou que há uma máquina de fake news e que atua sob um manto de anonimato institucional.
Segundo ele, os resultado obtidos da apuração apontaram que a verdadeira máquina de fake news operava e continua a fazer com base em núcleos financeiro, decisório, político e operacional, semelhantes a organizações criminosas.
"Liberdade fundamental de pensamento não protege, não ampara atos criminosos, especialmente aquelas condutas que podem provocar lesão ao regime democrático", disse.
Pouco antes, o ministro Marco Aurélio Mello deu até agora o único voto a favor do pedido para suspender a tramitação do inquérito das fake news.
Para Marco Aurélio, a apuração pelo próprio Supremo viola o princípio da separação de funções em uma investigação criminal.
Com o placar de 9 a 1 pela legalidade do inquérito, falta apenas o voto do presidente do STF, Dias Toffoli.
(Reportagem de Ricardo Brito)