Por Geoffrey Smith
Investing.com -- O mercado de capitais ficou encantado, mas a euforia com o anúncio da Merck (NYSE:MRK) (SA:MRCK34)) na semana passada de que pode ter um medicamento eficaz para a Covid-19 que pode ser administrado em forma de pílula provavelmente é prematura.
Claro que a notícia não é nada a ser menosprezado. Os resultados intermédios de um ensaio de fase 3 encurtado – normalmente o último de uma série de testes exigidos para novos medicamentos – sugerem de forma robusta que o medicamento é eficaz na prevenção de doenças graves e de morte, e é livre de efeitos colaterais significativos.
Se isso for confirmado pelos reguladores, então o mundo terá o seu primeiro tratamento eficaz para a Covid na forma de comprimidos – incomparavelmente mais fáceis de serem fabricados, distribuídos e administrados em massa do que as vacinas.
No entanto, é pouco provável que seja uma resposta autônoma para o maior problema em controlar a Covid-19: as taxas de vacinação ainda baixas nos países mais pobres. Menos de 20% da população indiana de 1,38 bilhão de pessoas está totalmente vacinada. Dos sete países mais populosos de África, que representam mais de 730 milhões de pessoas, apenas a África do Sul tem uma taxa de vacinação superior a 6%. O molnupiravir não irá impedir que a doença se propague e sofra mutações sem obstáculos entre essas pessoas.
Uma pílula antiviral é, em primeiro lugar, um remédio, não um profilático. Ela não é um substituto adequado para a vacinação em massa. A nota de imprensa da Merck indica que o medicamento tem alguma qualidade profilática, mas o ensaio clínico se concentrou apenas no tratamento de pessoas que já têm Covid.
Desse modo, o medicamento provavelmente vai ter maior impacto – pelo menos a princípio – nos países ricos, onde parece perfeitamente adequado como uma segunda linha de defesa no combate às infecções entre os vacinados, e como uma rede de segurança para as substanciais minorias que se recusaram ou não conseguiram tomar a vacina.
Se planos de saúde amparados pelo Estado estarão dispostos a pagar por um tratamento de comprimidos de US$ 700 para pessoas que se recusaram a tomar uma vacina de US$ 20 é uma outra questão, especialmente se isso fizer com que as pessoas fiquem mais propensas a aceitar a primeira - e melhor - linha de defesa contra a Covid.
Porém, antes que esse estágio seja atingido, há perguntas mais importantes a se fazer. A mais urgente e relacionada à segurança.
A Merck excluiu mulheres grávidas do seu teste e insistiu na abstinência de sexo entre os pacientes durante o tratamento, o que sugere que ela não descartou o risco de a tecnologia do medicamento, que obstrui deliberadamente a forma como o vírus se replica, poder ter consequências indesejadas. Obviamente, tais coisas estão além do escopo de um ensaio de 29 dias.
Partindo da premissa de que a droga seja finalmente aprovada, a Merck parece disposta a fazer o melhor possível com ela. A empresa já possui um contrato preliminar de venda de US$ 1,2 bilhão com os EUA, e outros estão formando fila para fazer encomendas: A Austrália encomendou 300.000 unidades de tratamento no início desta semana.
Mas não e possível imaginar quanto o medicamento pode render nos países mais pobres, dada a falta de informações públicas sobre preços no seu acordo preliminar com fabricantes indianos de medicamentos genéricos. Além disso, é pouco provável que a empresa será a única jogadora em campo por muito tempo. A Roche (OTC:RHHBY) e a Pfizer (NYSE:PFE) (SA:PFIZ34) têm remédios antivirais em desenvolvimento.
Tudo isso, naturalmente, é bom para consumidores, sistemas de saúde e qualquer pessoa que queira retornar às condições pré-Covid o mais breve possível. Mas o verdadeiro divisor de águas para pandemias continua a ser a vacinação em massa. No fim das constas, os benefícios de se conquistar isso parecem maiores que as recompensas que aguardam os acionistas da Merck.