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Congresso do Peru destitui presidente Vizcarra em meio a alegações de corrupção

Publicado 10.11.2020, 00:33
Atualizado 10.11.2020, 00:35
© Reuters. .

Por Marco Aquino

LIMA (Reuters) - O Congresso do Peru destituiu o presidente Martín Vizcarra de seu cargo na segunda-feira em uma votação de impeachment sobre alegações de corrupção, gerando tensões imediatas no país andino.

Vizcarra disse que aceitaria a votação do Congresso, não tomaria nenhuma ação legal e deixaria o palácio presidencial.

O chefe do Congresso, Manuel Merino, agrônomo e empresário do partido Ação Popular, deve assumir a Presidência na terça-feira e permanecerá no cargo até o final de julho de 2021, quando o mandato de Vizcarra terminaria.

Merino pediu calma após a votação e garantiu aos peruanos que as eleições presidenciais de 11 de abril ocorrerão conforme planejado.

"Já está anunciado", disse ele sobre a eleição em entrevista à emissora local América Televisión.

No segundo esforço dos parlamentares para remover Vizcarra, um político de centro, em questão de meses, o Congresso, dominado pela oposição, teve 105 votos para destituí-lo, sob acusações de que, quando governador, ele aceitou subornos de empresas que obtiveram contratos de obras públicas.

Os 105 votos excederam em muito o mínimo de 87 votos necessários, do total de 130 cadeiras, para removê-lo do cargo. Houve 19 votos contra sua destituição e quatro abstenções.

Vizcarra rejeitou as alegações de corrupção como "infundadas" e "falsas".

Ele alertou sobre "consequências imprevisíveis" no início da segunda-feira, se os parlamentatres aprovassem o impeachment a poucos meses da eleição presidencial de 11 de abril, na qual ele não pode concorrer.

Dezenas de pessoas se reuniram na Plaza San Martín, no centro de Lima, em apoio a Vizcarra, após a notícia de sua destituição, enquanto policiais vigiavam de perto a multidão.

Um vídeo circulou nas redes sociais mostrando o deputado Ricardo Burga, que votou a favor da moção de impeachment, levando um soco no rosto de um transeunte enquanto falava a repórteres de televisão.

A destituição de Vizcarra do cargo coloca o segundo maior produtor mundial de cobre em turbulência política, enquanto busca se recuperar de uma recessão econômica provocada pela pandemia do coronavírus.

Vizcarra, de 57 anos, não tinha partido no fragmentado Congresso e tinha uma relação tensa com os parlamentares, com os quais frequentemente entrava em conflito por causa de sua agenda anti-corrupção. Ele dissolveu o Congresso no ano passado após um longo impasse, uma medida que gerou críticas por parlamentares de direita.

Vizcarra sobreviveu a uma primeira tentativa de impeachment em setembro em outro julgamento separado de impeachment por supostas ligações a um caso de contratos irregulares do governo com uma cantora pouco conhecida. Apenas 32 na câmara votaram a favor de sua destituição naquela votação.

Em novembro, no entanto, os parlamentares votaram para avançar com um novo julgamento de impeachment sobre as acusações de que Vizcarra aceitou subornos de empresas que ganharam contratos de obras públicas quando ele era governador da região sul de Moquegua.

A destituição de Vizcarra pode dar início a um período de tensões políticas nos meses que antecedem as eleições, visto que o Peru já está sofrendo com a instabilidade econômica e o impacto da pandemia, segundo analistas.

O governo de Vizcarra entrou em confronto com Merino nos últimos meses por causa de acusações de que ele tentou invocar os militares em seu pedido de remoção de Vizcarra. Merino negou qualquer irregularidade.

Analistas disseram que Merino poderia promover algumas medidas populistas nos meses que antecederem as eleições no Peru.

© Reuters. .

Já parlamentares simpatizantes de Vizcarra rejeitaram sua destituição e alertaram que a decisão aumentaria a instabilidade no país.

"Este é um golpe disfarçado. Precisamos de calma, mas também de muita vigilância do cidadão", disse George Forsyth, prefeito e um dos candidatos à eleição de 2021, no Twitter.

Francisco Sagastegui, parlamentar do Partido Morado, de centro, considerou a votação uma "decisão incorreta".

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