Por Giselda Vagnoni e Angelo Amante
ROMA (Reuters) - O presidente da Itália pediu nesta quinta-feira a Giuseppe Conte que lidere uma coalizão formada pelo Movimento 5 Estrelas e o Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, em um gesto que pode ser um ponto de inflexão nas relações fragilizadas do país com a União Europeia.
Sergio Mattarella autorizou Conte a formar um gabinete pouco menos de uma semana depois de o advogado discreto renunciar em reação a uma decisão do partido Liga, de extrema-direita, de desfazer sua coalizão com o 5 Estrelas.
A manobra do líder da Liga, Matteo Salvini, que queria antecipar as eleições para capitalizar o sucesso de seu partido nas eleições europeias, parece ter saído pela culatra, já que o 5 Estrelas e o PD colocaram de lado sua antipatia mútua para formar um governo.
"Nos próximos dias voltarei ao presidente da República... e apresentarei minhas propostas de ministros", disse Conte aos repórteres no palácio presidencial.
"Precisamos trabalhar imediatamente e elaborar um orçamento para evitar o aumento do IVA (imposto de valor agregado), proteger os poupadores e oferecer perspectivas sólidas de crescimento econômico e desenvolvimento social", disse. O IVA aumentará a partir de 1o de janeiro a menos que o governo consiga 26 bilhões de dólares de algum lugar.
Os mercados se animaram com as perspectivas de um final rápido da crise política de três semanas. Os custos dos empréstimos italianos de 10 anos atingiram seu menor índice em pregão nesta quinta-feira, já que os investidores saudaram a notícia de que eleições antecipadas foram evitadas.
Mas a próxima coalizão ainda precisa combinar uma plataforma política comum e uma equipe de ministros. Para complicar, o 5 Estrelas disse que submeterá qualquer acordo com o PD a uma votação de seus membros pela internet. Muitos apoiadores do 5 Estrelas refutam um pacto com a centro-esquerda, e uma aprovação na votação não é certa.
Conte, acadêmico sem filiação política, mas considerado próximo do 5-Estrelas, disse que o trabalho no orçamento de 2020 é sua prioridade.
Em um esboço básico prévio de uma plataforma política para a coalizão, os dois lados pediriam à UE uma flexibilidade no déficit no orçamento de 2020 para "fortalecer a coesão social" no país, informou o diário financeiro Il Sole 24 Ore nesta quinta-feira.
A UE impõe regras orçamentárias a países-membros com a meta de garantir a estabilidade financeira do bloco, e teve um relacionamento tenso com a gestão desfeita recentemente, já que Salvini acusa a UE de empobrecer os italianos.
(Reportagem adicional de Valentina Consiglio e Gavin Jones em Roma)