Calendário Econômico: Temporada de Balanços, inflação nos EUA com tarifas de Trump
Investing.com – Os índices futuros das bolsas norte-americanas operam em alta na manhã desta quarta-feira, em meio à intensificação do conflito entre Israel e Irã, que chega ao sexto dia.
A expectativa pela decisão de política monetária do Federal Reserve e do Banco Central do Brasil divide a atenção dos investidores.
No mercado de commodities, os preços do petróleo recuam levemente, após a disparada da véspera, diante da preocupação com eventuais impactos da guerra sobre o fornecimento global da commodity.
Em paralelo, o Senado dos EUA aprovou um projeto de lei que estabelece as bases para a regulação de stablecoins.
No Brasil, os investidores acompanham também as implicações econômicas dos recentes reveses políticos do governo no Congresso.
1. Futuros dos EUA sobem
Os índices futuros americanos registram ganhos moderados, enquanto os mercados acompanham a escalada da violência no Oriente Médio e aguardam a decisão de juros do Federal Reserve, que será anunciada ainda nesta sessão.
Às 8 h de Brasília, o contrato futuro do Dow Jones subia 76 pontos, ou 0,2%, o do S&P 500 avançava 16 pontos, ou 0,3%, e o do Nasdaq 100 ganhava 70 pontos, ou 0,3%.
Na sessão anterior, os principais índices de Wall Street encerraram o pregão em queda, revertendo os ganhos observados mais cedo. O movimento refletiu a continuidade do confronto militar entre Israel e Irã, além da divulgação de dados fracos sobre vendas no varejo e incertezas relacionadas à política comercial e fiscal do presidente Donald Trump.
O S&P 500 recuou 0,8%, enquanto o Nasdaq Composite, mais exposto ao setor de tecnologia, cedeu 0,9%. O Dow Jones Industrial Average, composto por 30 ações, caiu 0,7%. O Índice de Volatilidade Cboe subiu para 21,6, o nível mais elevado desde 23 de maio.
2. Petróleo recua com tensão geopolítica e foco no Fed
As cotações do petróleo apresentam leve correção após a disparada de 4% registrada na terça-feira. O mercado reavalia os riscos de interrupção no suprimento global da commodity em função da guerra entre Israel e Irã, ao mesmo tempo em que considera os possíveis efeitos da decisão de juros do Fed sobre a demanda.
No momento da redação, o Brent caía 0,3%, negociado a US$ 76,20 o barril, ainda acima da marca de US$ 76 pelo segundo dia consecutivo. O WTI também recuava 0,3%, para US$ 73,02 o barril.
Segundo comunicado publicado nas redes sociais, a força aérea israelense afirmou ter bombardeado instalações de produção de centrífugas e armamentos na região de Teerã. Os alvos fariam parte de uma operação militar com o objetivo de danificar o “programa nuclear e a indústria de mísseis” do Irã.
A tensão no Oriente Médio aumentou após o ataque de Israel a instalações nucleares iranianas na última sexta-feira. Desde então, os bombardeios se intensificaram de ambos os lados, com relatos de vítimas entre civis e militares.
A atuação dos Estados Unidos no conflito segue sendo um ponto-chave. Trump exigiu a “RENDIÇÃO INCONDICIONAL” do Irã e chamou o aiatolá Ali Khamenei de “alvo fácil”. Em seguida, deu a entender que os EUA teriam auxiliado Israel a conquistar uma superioridade aérea “completa e total” sobre o território iraniano.
O vice-presidente JD Vance afirmou posteriormente que Trump pretende empregar as Forças Armadas apenas para atender aos interesses diretos da população americana. Ressaltou, porém, que o presidente ainda pode considerar ações adicionais para impedir o enriquecimento de urânio pelo Irã.
3. Fed e Copom são destaques no dia
É amplamente esperado que o Fed mantenha as taxas de juros inalteradas ao término de sua reunião de dois dias, nesta quarta-feira. As autoridades avaliam o impacto dos novos planos tarifários de Trump sobre a inflação e a atividade econômica.
A expectativa é de que o comitê adote uma postura cautelosa em relação a eventuais cortes futuros, à medida que economistas alertam sobre o risco de que as tarifas alimentem pressões inflacionárias e restrinjam o crescimento.
O banco central também divulgará uma nova versão do chamado "dot plot", que reflete as projeções individuais dos membros para o rumo da taxa de juros. Segundo a ferramenta FedWatch do CME Group, os investidores atribuem 54,8% de probabilidade de que o próximo corte ocorra apenas em setembro.
Ainda assim, o recente avanço dos preços do petróleo — consequência direta do conflito no Oriente Médio — pode alterar essas projeções, segundo avaliação do ING.
“Os últimos movimentos do petróleo anulam parte das notícias favoráveis sobre a inflação. Como o Fed permanece preocupado com choques de preços causados pelas tarifas, esperamos um tom mais hawkish hoje, com cautela renovada sobre flexibilizações à frente”, escreveram analistas do banco liderados por Francesco Pesole.
No Brasil, os investidores também aguardam a decisão de juros do Comitê de Política Monetária (Copom) do banco central, com o mercado dividido quanto ao desfecho da reunião desta quarta.
Entre 48 instituições consultadas, 56% projetam manutenção da Selic em 14,75%, enquanto 44% esperam uma alta final de 0,25 ponto, para 15%.
A incerteza reflete a combinação de inflação ainda resistente, especialmente nos serviços, atividade econômica ainda firme e riscos geopolíticos que pressionam os preços do petróleo.
O banco central, por sua vez, tem reiterado que a taxa está em nível restritivo, mas ainda avalia se o aperto atual é suficiente para garantir a convergência da inflação à meta.
Instituições como o Itaú apostam em estabilidade, com ênfase na manutenção da política monetária restritiva por um período prolongado. Já o Goldman Sachs (NYSE:GS) vê espaço para um ajuste adicional, argumentando que um aumento agora fortaleceria a credibilidade do comitê e dificultaria a antecipação de cortes pelos mercados.
4. Senado dos EUA aprova estrutura regulatória para stablecoins
O Senado norte-americano aprovou um projeto de lei que define um arcabouço regulatório para stablecoins — criptomoedas pareadas ao dólar.
A medida, que obteve apoio bipartidário, exige que os emissores desses ativos mantenham reservas lastreadas em instrumentos altamente líquidos, como dólares físicos ou títulos do Tesouro. Também determina a divulgação mensal da composição das reservas.
Stablecoins são normalmente atreladas ao dólar em paridade de 1:1, o que tende a preservar seu valor. Esses ativos são amplamente utilizados para transferências entre tokens no ecossistema cripto.
Caso a proposta também passe pela Câmara dos Representantes e se torne lei, representará um marco regulatório para o setor. A regulamentação das stablecoins é uma demanda antiga da indústria. Trump, que buscou aproximação com o setor antes das eleições do ano passado, vinha sendo pressionado a formalizar avanços nesse sentido.
5. Embate entre Executivo e Legislativo no Brasil
Outro ponto de atenção no cenário local são as implicações econômicas dos recentes reveses enfrentados pelo governo no Congresso, que derrubou ontem os vetos do presidente Lula à isenção de fundos de investimento do agronegócio (Fiagros) e do setor imobiliário (FIIs) na Reforma Tributária, além de dispositivos incluídos pelo Legislativo na regulamentação de usinas eólicas offshore, gerando preocupações no setor elétrico.
Em outra frente, aliados do governo buscam negociar com o presidente da Câmara, Hugo Motta, uma forma de manter em vigor o decreto que elevou as alíquotas do imposto sobre operações financeiras (IOF), mas enfrentam resistência de parlamentares do centro e da oposição, que pressionam pela votação do projeto que revoga a medida.