BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), elogiou a atuação "contundente" do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, avaliou que Jair Bolsonaro tem posição dúbia ao contradizê-lo e afirmou que o presidente não tem coragem de demitir o chefe da pasta.
Para o deputado o conflito de Bolsonaro com seu subordinado "não faz sentido", porque, ao escolhê-lo --Maia fez questão de frisar que foi uma opção pessoal do presidente--, delegou a Mandetta a condução técnica da área da saúde.
"É fundamental que no meio desse processo a gente não tenha a perda de um nome como o Mandetta", disse Maia em live organizada pelo Itaú Personnalité e o jornal Valor Econômico.
"Até outro sentar naquela cadeira e reorganizar o processo, até com uma posição diferente, porque certamente, se o presidente trocar o ministro, ele vai mudar a política do ministério", avaliou, afirmando que Bolsonaro não concorda com a política da pasta e vem questionando, por exemplo, a orientação de isolamento social como estratégia de combate à disseminação do novo coronavírus.
"Ao mesmo tempo, ele não tem a coragem de tirar o ministro e mudar oficialmente a política", acrescentou o presidente da Câmara. "Ele tem uma posição dúbia."
O presidente tem criticado as medidas de isolamento social, via redes sociais e pronunciamentos, na contramão de postura recomendada pelo próprio Ministério da Saúde, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), adotada também por governadores e prefeitos.
"Acredito que toda vez que o presidente vem a público para criticar o ministro, ele, claro, mais atrapalha do que ajuda, e o ministro tem tido toda a paciência, todo o equilíbrio para continuar reafirmando a mesma posição", avaliou o presidente da Câmara.
"Parece que o presidente virou comentarista do seu próprio governo e tenta transferir a responsabilidade para outros."
Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira aponta que o Ministério da Saúde tem aprovação mais de duas vezes superior à atribuída a Bolsonaro. De acordo com o levantamento, 76% dos entrevistados aprovam o desempenho da pasta, número que era de 55% na pesquisa anterior, realizada entre 18 e 20 de março. Já o presidente viu sua aprovação oscilar para baixo dentro da margem de erro, de 35% para 33%, mostrou a pesquisa publicada no site do jornal Folha de S.Paulo.
Outro levantamento divulgado nesta sexta-feira, do Ipespe para a XP Investimentos, indica que uma piora na avaliação do governo federal, ao passo que a aprovação dos governadores teve um salto. Enquanto isso, 68% avaliam como ótima ou boa a atuação do ministro da Saúde no enfrentamento da pandemia e apenas 29% têm essa avaliação do papel que vem sendo desempenhado por Bolsonaro.
"Os governadores seguem a orientação do ministro indicado pelo presidente", lembrou Maia. "E o presidente ataca os governadores", acrescentou o deputado, afirmando que o Brasil não é um país para "amadores".
Ao afirmar que Mandetta conta com o apoio da maioria da Câmara dos Deputados, o presidente da Casa voltou a elogiar a atuação do ministro por não sair "do trilho por pressão" do presidente.
"O ministro tem conseguido, com toda essa dificuldade de organizar as coisas e ser desautorizado, ele continua cumprindo um papel fundamental, que é baseado na ciência, baseado nas determinações da Organização Mundial de Saúde (OMS)", disse Maia.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello)