Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos futuros de juros subiram pela segunda sessão consecutiva nesta quarta-feira no Brasil, em sintonia com o exterior, onde os rendimentos dos Treasuries sustentavam ganhos em meio à expectativa em torno das negociações para ampliação do teto da dívida dos EUA.
Pela manhã, a Casa Branca informou que o presidente dos EUA, Joe Biden, continuará a conversar com os líderes do Congresso sobre o limite da dívida do país no fim desta semana e se reunirá com eles novamente ao voltar de uma viagem para participar da cúpula do G7, no Japão.
Perto do meio-dia no Brasil, foi o próprio Biden que afirmou, antes de sua viagem, que está confiante em um acordo com os parlamentares republicanos e democratas que evite o default a partir de 1º de junho.
Os comentários de Biden trouxeram certo otimismo aos negócios, abrindo espaço para uma alta firme das bolsas de Nova York e, ao mesmo tempo, para o avanço das taxas dos Treasuries, com investidores deixando em segundo plano os títulos norte-americanos.
A alta nos rendimentos dos Treasuries também se refletiu no Brasil.
“O movimento nos EUA influencia bastante os juros futuros no Brasil. Quando as taxas sobem por lá, é comum haver uma correção em alta também por aqui”, comentou Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos.
O profissional também chamou a atenção para o fato de que, nas últimas semanas, a tendência mais geral para as taxas futuras foi de queda, em meio a um cenário mais positivo no exterior e no Brasil.
“Ontem (terça-feira) e hoje (quarta-feira), vimos um movimento (de alta) diferente nos juros, em relação às últimas semanas. Mas nós enxergamos espaço para os juros cederem mais. No longo prazo, o alívio vai vir se tivermos um arcabouço fiscal plausível de ser executado”, avaliou Caetano, em referência à proposta de nova regra fiscal atualmente em tramitação no Congresso.
Durante a sessão, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, participou de audiência conjunta de comissões na Câmara dos Deputados. Ao tratar do arcabouço, disse esperar pela aprovação da matéria com mais de 300 votos na Casa, após a votação da urgência da tramitação, prevista para esta quarta-feira.
"Pelo que eu li nos jornais, todo mundo diz que o texto (do relatório do arcabouço) foi aperfeiçoado e que atendeu a outros setores da sociedade que foram ouvidos. E, portanto, eu estou confiante de que vai aprovar a urgência hoje (quarta)", afirmou Haddad.
Pela manhã, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, comentou em vídeo, durante a Conferência Anual do BC, que as expectativas de inflação para 2024 e 2025 mostram desancoragem, com questionamentos sobre possível mudança nas metas de inflação e incertezas fiscais. Ele pontuou ainda que os núcleos de inflação estão mais resilientes.
"Embora tenhamos progredido até agora, ainda enfrentamos desafios para consolidar a desinflação no Brasil", afirmou Campos Neto.
Na prática, a mensagem do presidente do BC continuou sendo de cautela em relação ao início do ciclo de cortes da taxa básica Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
Neste cenário, no fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 13,325%, ante 13,304% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 11,765%, ante 11,703% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 11,27%, ante 11,194% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,315%, ante 11,24%.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries seguiam em alta no fim da tarde.
Às 16:37 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- subia 2,80 pontos-base, a 3,5773%.
No mesmo horário, o rendimento do Treasury de cinco anos subia 6,40 pontos-base, a 3,5865%.