Kiev, 25 fev (EFE).- As hostilidades entre as forças ucranianas e os rebeldes pró-Rússia foram reduzidas ao mínimo nesta quarta-feira no leste da Ucrânia, enquanto Kiev e Moscou abriam um novo capítulo em sua guerra do gás.
Tanto os separatistas como as autoridades ucranianas constataram hoje uma significativa diminuição das violações do cessar-fogo - que entrou em vigor no último dia 15 - durante a madrugada passada e todo o dia de ontem.
Mas em outra frente, o presidente russo, Vladimir Putin, jogou lenha na fogueira ao criticar o governo ucraniano por sua decisão de cortar no último dia 19 o abastecimento de gás aos territórios controlados pelos rebeldes, que estão recebendo agora diretamente da empresa russa Gazprom.
"Como se não bastasse que ali (nas regiões de Donetsk e Lugansk) se passe fome, e que a OSCE tenha constatado que há uma catástrofe humanitária, agora cortam o gás. Isso já cheira a genocídio", disse Putin em entrevista coletiva depois de se reunir com o presidente do Chipre, Nicos Anastasiades.
Putin lembrou que os acordos de paz de Minsk, assinados no último dia 12, obrigam as autoridades ucranianas a garantirem o fornecimento de energia aos territórios controlados pelos separatistas.
A Ucrânia também fez hoje alusão a esses acordos - negociados na reunião que durou 16 horas entre os presidentes de Rússia, Ucrânia, França e Alemanha - ao reiterar que não cumprirá o segundo ponto do documento, que obriga os dois lados a retirarem o armamento pesado da frente até que o cessar-fogo seja total.
"Haverá retirada do armamento pesado apenas depois da cessação total do fogo", ressaltou o ministro da Defesa ucraniano, Stepan Poltorak.
Pouco depois, o porta-voz do comando militar ucraniano, Andrei Lisenko, denunciou novos ataques dos pró-Rússia com artilharia contra as posições ucranianas na cidade de Shirokino, a 21 quilômetros de Mariupol, estratégico porto industrial nas mãos das forças governamentais.
Embora os rebeldes tenham informado da retirada de até 200 peças de artilharia hoje, após a centena que teriam retirado ontem, a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) exigiu dos dois lados informação necessária para comprovar o cumprimento desse ponto dos acordos de Minsk.
"Isso inclui informação sobre que tipo armamento têm, onde está agora, que rotas usarão para sua retirada e onde ficará uma vez recuado", disse o chefe da missão especial da OSCE para a Ucrânia, Ertogrul Apakan.
O veterano diplomata turco ressaltou que há uma grande diferença entre o trabalho de observar movimentos de artilharia e constatar realmente sua retirada.
A chancelaria russa não demorou a criticar a postura adotada pelo organismo internacional e exigiu em comunicado que "a missão da OSCE assuma sem demora as funções de observação e verificação da retirada do armamento pesado" como se comprometeu como fiador dos acordos de Minsk.
Por outro lado, o ministro das Relações Exteriores ucraniano, Pablo Klimkin, defendeu ampliar a missão da OSCE no leste do país enquanto se resolve o envio à zona do conflito de uma missão de paz da ONU, que Moscou não quer.
"Em nosso caso, o assunto se complica pelo direito de veto que a Rússia tem no Conselho de Segurança. Por isso necessitamos de outro mecanismo que permita controlar a situação no Donbas (as regiões de Donetsk e Lugansk) e ajudar a diminuir a tensão", disse Klimkin aos jornalistas.
A Comissão Europeia reiterou hoje sua preocupação pela disputa mantida entre Rússia e Ucrânia pelo gás e exigiu que as partes cumpram o "pacote de inverno", o acordo fechado em outubro que permitiu restabelecer o trânsito de gás russo à Ucrânia até final de março.
Putin confirmou que a Gazprom fechará em três dias a torneira do gás à Ucrânia se o país não pagar antecipadamente seu consumo previsto para o mês de março.
"O que a parte ucraniana já pagou dá para três ou quatro dias de provisão. Se não for pré-paga, a Gazprom cortará a provisão como previsto no contrato", advertiu Putin, que reconheceu que a medida "pode criar certa ameaça para o trânsito (do gás) à Europa".