Por Stephanie Nebehay
GENEBRA (Reuters) - Um comitê da Organização das Nações Unidas (ONU) pediu ao México nesta sexta-feira que investigue e processe supostos casos de cumplicidade das forças do Estado em "desaparecimentos", entre eles o de 43 estudantes que se acredita terem sido assassinados no ano passado.
Na semana passada, a delegação mexicana declarou ao Comitê das Nações Unidas para Desaparecimentos Forçados desconhecer o paradeiro de 11.300 pessoas. A Anistia Internacional disse em um comunicado que mais de 22.600 pessoas sumiram nos últimos oito anos em meio a "um grande problema de impunidade".
Os dez especialistas independentes do comitê afirmaram terem recebido informações que "ilustram um contexto de desaparecimentos generalizados em uma grande parte do território (do México), muitos dos quais poderiam ser classificados como desaparecimentos forçados".
Os desaparecimentos forçados são aqueles ligados à detenção ou sequestro por agentes do Estado, como policiais e forças de segurança, ou seus aliados, que ocultam o destino das vítimas.
O procurador-geral do México, Jesús Murillo, afirmou não haver dúvida de que os 43 estudantes foram mortos em setembro passado e que seus restos mortais foram incinerados e atirados em um rio na cidade de Cocula.
Autoridades dizem que eles foram raptados por policiais corruptos, que os entregaram a um cartel de drogas local. O ex-prefeito da cidade de Iguala, no sudoeste mexicano, foi preso.
Os pais dos alunos se reuniram com o comitê da ONU para apelar por ajuda na busca de justiça, dizendo não terem fé na capacidade do governo para investigar o crime.
"O caso grave dos 43 estudantes sujeitos ao desaparecimento forçado em setembro de 2014 no Estado de Guerrero ilustra os desafios sérios que o México enfrenta em termos de prevenção, investigação e punição pelos desaparecimentos forçados e da busca pelos desaparecidos", declarou a entidade da ONU.
Os especialistas expressaram preocupação com a "impunidade em relação aos numerosos casos de desaparecimentos forçados".
O comitê exortou o México a criar um escritório especial na promotoria para conduzir inquéritos e processos especializados, e disse que as autoridades deveriam intensificar as buscas de todos os desaparecidos, incluindo migrantes que sumiram a caminho dos Estados Unidos, e compartilhar amostras de DNA de corpos não-identificados.