BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, avaliou nesta terça-feira que o programa de swap cambial tem papel importante em momento de normalização da política monetária nos Estados Unidos, mas reforçou que o estoque de derivativos cambiais ofertados até o momento já atende de forma significativa à demanda por proteção cambial da economia.
As falas do chefe da autoridade monetária, feitas durante audiência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, despertaram a atenção de agentes do mercado, que buscavam pistas sobre a continuidade ou não das intervenções cambiais.
Criado para apaziguar a volatilidade provocada pela oscilação da moeda norte-americana, o programa de swap vigora desde agosto de 2013. No fim do ano passado, o BC anunciou que ele seria estendido até 31 de março, reduzindo a oferta da "ração" em leilões de swap a até 2 mil contratos, equivalentes a 100 milhões de dólares por dia.
Inicialmente, o programa oferecia 10 mil contratos de swaps cambiais diariamente, volume que já havia sido reduzido para 4 mil contratos em 2014.
Após autoridades do governo afirmarem que a recente escalada da moeda norte-americana não representava um descontrole e que a desvalorização do real daria impulso às exportações, muitos passaram a acreditar que o BC interromperia ou reduziria ainda mais as intervenções.
Contudo, em um ano para o qual as expectativas do mercado apontam em uníssono para a retração da economia há também a percepção de que uma mudança brusca no programa pode alimentar ainda mais a subida do dólar, com impacto sobre a inflação.
Depois de uma trégua nas duas sessões anteriores, a moeda norte-americana (BRBY) tinha uma sessão volátil nesta terça-feira. No ano, a divisa acumula alta de cerca de 18 por cento.
Durante a audiência, o presidente do BC afirmou que o volume ofertado até agora no âmbito do programa de swap é de 114 bilhões de dólares equivalentes, o que corresponde a aproximadamente trinta por cento das reservas internacionais do Brasil.
"Estamos confortáveis com essa posição, podemos mantê-la dez, 20 anos nesses níveis", afirmou ele.
Segundo Tombini, o BC não tem pressa para desfazer o volume de contratos de swap nem no curto nem no médio prazo por considerar que ele protege o setor privado não financeiro e permite que as empresas "consigam navegar com certa tranquilidade num ambiente em que dólar vai de 2,85 para 3,20 (reais) em curto espaço de tempo sem quebrar".
Mais de 80 por cento do estoque de swaps está alocado com empresas não financeiras ou não residentes no país, o que demonstra, na avaliação de Tombini, que o programa tem fornecido proteção aos agentes econômicos contra mudanças abruptas na taxa de câmbio.
O presidente do BC disse ainda que a autoridade monetária tem condições de renovar integralmente as operações vincendas no curto e médio prazos.
EMBATES
A participação do presidente do BC na audiência de mais de quatro horas foi marcada por embates entre parlamentares da base e da oposição.
Rebatendo o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), que questionou a retomada do aperto monetário em outubro depois de passada a reeleição da presidente Dilma Rousseff, Tombini afirmou que a autoridade monetária atua com "autonomia operacional de fato".
Ele lembrou que o BC elevou a taxa básica de juros em 3,75 pontos percentuais entre abril de 2013 e abril de 2014, movimento que, em função de defasagens próprias à política monetária, teve reflexo máximo sobre a economia no segundo semestre do ano passado.
"Se o BC não tivesse trabalhado com autonomia operacional jamais teria feito subida de juros de 375 pontos (base) cujo impacto incidiria com força máxima no 3º e 4º trimestres de 2014", disse.
O clima ficou tenso durante a audiência após Caiado insistir na pergunta e ser chamado de mal educado pela senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). O presidente do BC não quis responder novamente a indagação.
Avaliando as perspectivas para o futuro, Tombini afirmou que a adoção de medidas fiscais contribuirá para que a fase atual de transição na economia seja rápida e que os benefícios apareçam mais rapidamente, repetindo discurso de que há um conjunto de fatores que indicam que a convergência da inflação para o centro da meta em 2016 é factível.
Nesta semana, economistas de instituições financeiras consultados para pesquisa Focus, do BC, projetaram pela primeira vez que a inflação encerrará este ano com alta de mais de 8 por cento, bem acima da meta de 4,5 por cento com 2 pontos percentuais de tolerância para cima ou para baixo.
Para o final de 2016, a expectativa no boletim Focus aponta para um IPCA de 5,61 por cento, ligeiramente acima da estimativa de 5,60 por cento na semana anterior.
(Por Marcela Ayres)