Santiago do Chile, 15 set (EFE).- Com a direita unida e a
Concertação fragmentada, hoje tem início no Chile a campanha
eleitoral mais apertada dos últimos anos para escolher o novo
presidente da República e renovar o Parlamento.
A inscrição no Serviço Eleitoral do senador ex-socialista
Alejandro Navarro como candidato presidencial do Movimento Amplo
Social (MAS) fechou nesta segunda-feira o processo de postulações
que iniciaram na semana passada os principais aspirantes ao Palácio
da Moeda.
O candidato da direitista Coalizão pela Mudança, Sebastián
Piñera, se mantém no alto das pesquisas, embora em um eventual
segundo turno as pesquisas mais respeitadas mostrem um empate
técnico com seu principal rival, o governista Eduardo Frei.
"Estas serão as eleições mais incertas dos últimos vinte anos.
Com certeza será decidida no segundo turno", declarou a Efe o
diretor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO),
José Jara.
"Os 90 dias de campanha serão decisivos" para afiançar as
aspirações dos candidatos, assegurou.
O terceiro adversário nesta pugna é o deputado ex-socialista
Marco Enríquez-Ominami, que nos últimos meses avançou de maneira
firme nas pesquisas, embora a maioria dos analistas considere
improvável que supere a Frei e dispute a Presidência com Piñera no
segundo turno.
Os analistas estimam que pela primeira vez a direita tem
possibilidades de desbancar a Concertação, o bloco de
centro-esquerda formado pelos partidos Democracia Cristã,
Socialista, Radical Social Democrata e Pela Democracia que logrou
derrotar o ditador Augusto Pinochet no plebiscito de 1988.
Desgastada após vinte anos no poder, a coalizão governamental se
apresenta a estas eleições com um candidato único - Eduardo Frei -
mas sob a sombra e concorrência de outros três aspirantes - Marco
Enríquez Ominami, Alejandro Navarro e o allendista Jorge Arrate, que
lidera a Junto Podemos, a coalizão da esquerda extraparlamentar.
O senador ex-democrata-cristão Adolfo Zaldívar, quem também
militou na Concertação, renunciou na última hora apresentar sua
candidatura pelo Partido Regionalista Independiente (PRI).
"A Concertação está dividida, por isso vamos para o segundo
turno", explicou José Jara, quem lembrou que a direita não ganha uma
eleição no Chile há cinquenta anos, apesar de em algumas ocasiões
anteriores ter mais apoio nas pesquisas do que agora reúne Piñera.
Para o diretor da FLACSO, as fortalezas da campanha de Frei
radicam na solidez e na presença territorial da Concertação, assim
como na associação que na mente dos eleitores possa conseguir com a
presidente, Michelle Bachelet, que conta com um respaldo a seu
Governo de 74%.
Já Piñera joga com as vantagens de ser a imagem da mudança após
duas décadas de Concertação e de ir liderando as pesquisas, dado que
em geral os resultados das pesquisas não mudam muito nos últimos
três meses.
A composição do eleitorado também não deixa muita margem para a
surpresa, apesar das campanhas institucionais das últimas semanas
para que os cidadãos se registrassem no censo eleitoral.
No Chile o voto é obrigatório e, embora os 200 mil novos
eleitores representem um aumento de pouco mais de 3% do censo
eleitoral (7,5 milhões), "podem chegar a ser importantes em qualquer
eleição estreita", especificou hoje o diretor do Serviço Eleitoral,
Juan Ignacio García.
O sistema eleitoral chileno propicia a eleição na maioria dos
distritos eleitorais de um representante por cada uma das grandes
coalizões políticas: a governista Concertação e a direitista Aliança
pelo Chile.
Isto manteve afastadas do Parlamento as forças políticas
minoritárias, como o Partido Comunista, que conta com um respaldo de
aproximadamente o 5% do eleitorado.
Para pôr fim a esta exclusão, os dirigentes da Concertação
selaram um acordo eleitoral com a coalizão da esquerda
extraparlamentar Juntos Podemos, formalizada na segunda-feira
perante o Serviço Eleitoral com a inscrição de uma lista conjunta ao
Parlamento. EFE