O faturamento da indústria de máquinas e equipamentos totalizou R$ 33,060 bilhões no primeiro semestre deste ano, queda de 29,3% na comparação com o mesmo período do ano passado. Considerando-se apenas o mês de junho, o setor faturou R$ 5,867 bilhões, representando recuo de 23,7% sobre o mesmo mês do ano passado e avanço de 4,2% sobre o mês anterior. Os dados foram divulgados hoje (27) pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
Para José Velloso, presidente executivo da Abimaq, o balanço do setor mostra que a “crise é mais profunda do que nós imaginávamos”.
“Estamos atravessando o quarto ano de queda. Nesse quarto ano, estamos de janeiro a junho com uma queda de 30% do faturamento. Se avaliarmos só o mercado interno, a perda passa de 40%. É uma redução de 30% [do faturamento no primeiro semestre]”, disse Velloso.
Motivos
Segundo ele, o recuo no faturamento do setor é explicado principalmente por três razões: falta de confiança do empresário, juros altos e instabilidade política.
“O principal motivo da crise no setor é a falta de confiança do mercado. Uma máquina é um investimento para quem compra. Então, um empresário só vai investir quando tiver confiança de que esse investimento terá retorno.”
Para o presidente da Abimaq, outro desmotivador é a alta taxa de juros. "Se deixo dinheiro no banco, sem risco nenhum, e se ele [dinheiro] tiver remuneração acima de 14%, em um ambiente de inflação projetado em 7,5%, por que essa empresa vai investir em produção e correr risco?”, criticou Velloso.
Impeachment
“Acredito que, depois de passada essa indefinição política [com a finalização do processo de impeachment], essa componente política pode ser contornada. Mas as outras duas questões [juros altos e falta de confiança do empresariado] não. Se o Brasil continuar com essa política monetária de juros altos, não vamos sair dessa recessão”, afirmou.
Entre janeiro e junho, as exportações tiveram avanço de 1,1%, somando US$ 3,991 bilhões. Nesse mesmo período, as importações totalizaram US$ 8,398 bilhões, com queda de 18,8% sobre o primeiro semestre de 2015. Com isso, o saldo da balança comercial ficou negativo em US$ 4,407 bilhões nos primeiros seis meses deste ano, recuo de 31,1% sobre o mesmo período do ano passado.
Em junho, as exportações mantiveram-se estáveis com relação a maio, mas 2,3% superior a junho do ano passado, somando US$ 695 milhões. Já as importações somaram em junho US$ 2,320 bilhões, alta de 93,5% sobre maio e de 44,1% sobre junho do ano passado.
Empregos
“A balança comercial no setor parou de piorar por causa da importação. A queda da importação ocorreu pela redução do consumo aparente, ou seja, está se consumindo menos máquinas no Brasil, nacional ou importada. A tendência até o fim do ano é mais ou menos do jeito como estamos, com balança comercial negativa, mas menos negativa do que era”, acrescentou Velloso.
Quanto ao nível de emprego, houve queda de 0,5% em junho na comparação com maio e de 9,6% sobre o mesmo mês do ano anterior. No fim de junho, o setor totalizava 307.507 funcionários.
“Desde o início da crise, em 2013, já demitimos aproximadamente 80 mil empregados. Temos hoje cerca de 307 mil empregados diretos. A tendência é continuarmos caindo, mas o ritmo de queda diminuiu. Existem alguns motivos para isso. Um deles é que muitas empresas já não têm mais condições de demitir, porque demissão mexe com o caixa da empresa. Então, o empresário não tem mais dinheiro para demitir. A outra questão é porque a queda de faturamento, embora continue, está menos acentuada do que antes.”
Para o presidente da associação, a projeção para o ano é de queda na comparação com o ano anterior. “Nossa queda de faturamento, com certeza, será acima de dois dígitos. Ela hoje está em torno de 30% no primeiro semestre. Se estabilizar, chegaremos ao fm do ano com redução em torno de 20% ou 25%", concluiu.