Lisboa, 1 jul (EFE).- O Governo português voltou a justificar
hoje seu veto à venda da Vivo para a Telefónica, mas ficou
praticamente só na defesa dessa "bomba atômica", como a imprensa se
refere ao uso da "ação de ouro" sobre a Portugal Telecom (PT).
A própria empresa de telecomunicações, o principal partido de
oposição e numerosos especialistas e analistas de empresas e meios
de comunicação se mostraram contra o uso por parte do Governo
socialista de ações com direitos especiais consideradas por Bruxelas
incompatíveis com a legalidade.
Só apoiaram a decisão do primeiro-ministro português, José
Sócrates, os pequenos partidos da esquerda marxista, que normalmente
se preocupam mais com as pressões contra a política econômica e com
as medidas de ajuste impostas pela crise.
Sócrates insistiu hoje em defender o uso das ações privilegiadas,
que além de ter sobre a PT, o Estado também exerce em outras grandes
empresas.
"A Telefónica estava equivocada se achava que podia seguir com
uma oferta sem levar em consideração os interesses estratégicos
expressados claramente pelo Governo", diz o primeiro-ministro em
entrevista ao "Financial Times".
Sócrates usou argumentos similares quando justificou ontem o
recurso à "ação de ouro" logo após o término da assembleia da PT na
qual o Governo vetou a decisão de 74% dos acionistas de vender à
Telefónica - por 7,150 bilhões de euros - a participação de 30% que
a empresa portuguesa tem na Vivo.
Os mais contrariados parecem os acionistas lusos da PT e seus
diretores, que anunciaram hoje consultas "jurídicas" para esclarecer
os aspectos legais do veto ao confirmar que a Telefónica prorrogou
sua oferta pela Vivo até 16 de julho, quando Bruxelas pode ter
transformado já em história a "ação de ouro" da Portugal Telecom.
Até o início da assembleia, muitos analistas previam uma derrota
da Telefónica, que foi privada do voto da maior parte de suas ações
na PT (10%) e viu rejeitada sua proposta de dar um suculento
dividendo aos acionistas com a venda da Vivo.
Mas após a vitória do "sim" à venda, a Presidência da assembleia,
em uma decisão questionada por acionistas e diretores da PT, pediu e
admitiu o voto do Estado que anulou todos os demais. EFE