Lisboa, 16 jul (EFE).- O Governo português mantém o bloqueio à
venda dos 30% da brasileira Vivo controlados pela Portugal Telecom
(PT) porque considera que não houve novidades sobre a oferta de 7,15
bilhões de euros, que expira nesta sexta-feira, feita pela espanhola
Telefónica.
Por sua vez, o conselho de administração da Portugal Telecom
encerrou sua reunião extraordinária desta sexta-feira - que durou
quatro horas - sem anunciar nenhuma novidade sobre a venda de sua
participação na Vivo.
Lisboa deixou claro que os diretores da Telefónica devem cumprir
sua "missão" e velar pelos interesses dos acionistas.
Entre eles, se encontra o Estado português, que, com sua ação de
ouro no antigo monopólio português das comunicações, vetou a venda
da Vivo, aprovada por 73,9% dos votos emitidos na assembleia da
sociedade, realizada no dia 30 de junho.
Frente à posição reiterada pelo Governo português, o principal
acionista nacional da Portugal Telecom, o Banco Espírito Santo
(BES), que tem cerca de 8% do capital da empresa, defendeu hoje a
venda da Vivo à Telefónica para que a PT possa iniciar outros
projetos no Brasil com novos recursos financeiros.
O presidente do BES, Ricardo Salgado, expressou seu apoio à venda
em declarações à imprensa portuguesa. No entanto, ele reconheceu que
"neste momento, a decisão está mais do lado do Governo" de Lisboa,
após usar a ação de ouro para vetar a operação.
Em relação à oferta da empresa espanhola, o ministro da
Presidência de Portugal, Pedro Silva Pereira, fixou a posição do
Executivo e afirmou, após o conselho de ministros de hoje, que "a
posição do Governo é conhecida: fez um pronunciamento contra, pelo
qual, se a proposta não for alterada, o mantém".
O ministro ressaltou que o assunto da Vivo não foi abordado no
conselho de ministros de hoje. Segundo ele, "o melhor que se pode
fazer é aguardar o desenvolvimento do processo".
Pereira lembrou que a Telefónica "manifestou sua vontade de
negociar com a PT" e assegurou que o Executivo não tem uma
"participação direta nas negociações, dado que se trata de um
diálogo entre a administração da PT e a da Telefónica".
Por sua vez, o presidente do BES demonstrou esperança pela
possibilidade de que haja alguma novidade nas próximas horas, ao
destacar que, "teoricamente", é o último dia dado pela Telefónica
para a transação.
Já na opinião de Salgado, a colaboração entre a PT e a Telefónica
na sociedade Brasilcel - por meio da qual as duas controlam 60% do
capital da Vivo - "está esgotada". Cada uma possui metade das ações
da Brasilcel.
Mas, segundo ele, o Governo brasileiro manifestou várias vezes o
interesse de que a PT continue atuando no país, garantindo
oportunidades para que a operadora portuguesa, caso deseje investir
em outro projeto, tenha "todas as condições para ser uma empresa
vencedora".
Apesar das negociações atribuídas pelos analistas e pela
imprensa, até agora nem a PT nem a Telefónica informaram sobre algum
progresso para fechar a operação da Vivo, que, na opinião do Governo
português, está em ponto morto.
A oferta, cuja validade termina hoje, é a terceira feita pela
Telefónica para assumir todo o capital da Brasilcel e, por
conseguinte, controlar a operadora brasileira.
Os diretores da empresa espanhola asseguraram que não prorrogarão
nem aumentarão a oferta, como fizeram em outras duas ocasiões desde
a primeira proposta, no dia 6 de maio, quando ofereceram 5,7 bilhões
de euros.
Os acionistas nacionais e o conselho de administração da PT
consideraram baixa a proposta e também rejeitaram a segunda, de 6,5
bilhões de euros, apresentada no dia 1º de junho.
A oferta atual de 7,15 bilhões foi anunciada poucas horas antes
da assembleia de acionistas da empresa no dia 30 de junho, convocada
para decidir a operação. Embora na ocasião a proposta tenha sido
aceita incomodamente, acabou sendo bloqueada com a ação de ouro do
Governo português.
O Executivo de José Sócrates justificou sua decisão na defesa do
interesse nacional, para que a PT continue no Brasil, onde tem sua
principal fonte de lucro e crescimento.
O Governo português, então, recusou voltar atrás na decisão de
vetar a proposta. Por isso, o Tribunal de Justiça da União Europeia
(UE) declarou ilegal, no último dia 8, a ação de ouro usada por
Lisboa. EFE