Por David DeKok
HARRISBURG, Estados Unidos (Reuters) - Padres católicos romanos na Pensilvânia abusaram sexualmente de milhares de crianças durante um período de mais de 70 anos e silenciaram vítimas através da “instrumentalização da fé” e de uma campanha sistemática de acobertamentos feita por seus bispos, disse nesta terça-feira o procurador-geral do Estado.
Um relatório de 884 páginas tornado público pelo procurador-geral da Pensilvânia, Josh Shapiro, após uma investigação de dois anos contém exemplos gráficos de crianças sendo embelezadas e sexualmente abusadas por clérigos. O relatório foi amplamente baseado em documentos de arquivos secretos mantidos pelas dioceses, incluindo confissões escritas à mão por padres, disse Shapiro.
“Foram abusos sexuais de crianças, incluindo estupros, cometidos por homens adultos – padres – contra crianças”, disse Shapiro em entrevista coletiva.
Representantes das seis dioceses da Pensilvânia incluídas no relatório não puderam ser contatadas para comentários.
O procurador-geral disse que este é o relatório mais abrangente sobre abusos sexuais cometidos por clérigos católicos na história dos Estados Unidos, quase duas décadas após uma revelação de amplos abusos e acobertamentos em Boston que abalou a Igreja Católica Romana.
Diversas das dioceses emitiram comunicados se desculpando às vítimas e dizendo que estão tomando medidas para garantir que quaisquer comportamentos criminais sejam impedidos.
“O grande júri nos desafiou como uma diocese católica a colocar as vítimas em primeiro lugar e continuar desenvolvendo maneiras de proteger crianças e jovens”, disse o bispo Lawrence Persico, da diocese de Erie, em comunicado.
Shapiro descreveu supostos abusos cometidos por sacerdotes em seis das oito dioceses do Estado, incluindo um grupo de clérigos de Pittsburgh acusado de ordenar que um coroinha se despisse e posasse como Cristo na cruz enquanto o fotografava.
"O padrão era abusar, negar e encobrir", disse Shapiro, acrescentando que as autoridades da Igreja procuravam manter as alegações de abuso em silêncio por tempo suficiente para que não pudessem mais ser processadas sob o estatuto de limitações da Pensilvânia.
"Padres estavam estuprando meninos e meninas", afirmou Shapiro. "Eles esconderam tudo por décadas."
O relatório citou 301 padres, alguns dos quais morreram. Apenas dois dos padres ainda estão sujeitos a processos judiciais.