Jaime León.
Nova Délhi, 4 abr (EFE).- A Índia, maior democracia do mundo, realizará eleições gerais a partir da próxima segunda-feira contando com um eleitorado que exige mudanças em um país que nos últimos anos viu a desaceleração do "milagre indiano" e espera mais de seus líderes.
O hinduísta Narendra Modi, candidato do principal partido da oposição, o Bharatiya Janata Party (BJP), é o favorito, segundo as pesquisas, para ser escolhido primeiro-ministro e reger o destino dos 1,21 bilhão de indianos, além de recuperar o dinamismo do país que se transformou em potência emergente.
Longe da euforia vivia na primeira década do século XXI, o país experimenta certo pessimismo com a desaceleração do ritmo econômico, com o desemprego, os escândalos de corrupção e uma aparente falta de liderança.
Cidadãos e analistas culpam por essa "interrupção" da boa fase o Partido do Congresso, da dinastia Nehru-Gandhi, que após dez anos no poder chega muito desgastado ao pleito.
O chefe de campanha do Partido do Congresso, Rahul Gandhi, não seguirá nesta ocasião, segundo as enquetes, os passos de seu bisavô, avó e pai, que foram primeiros-ministros do país asiático.
Aos 43 anos, o membro da família que governou a Índia durante a maior parte de sua história após a independência do país, em 1947, não convence mais os eleitores por passar uma imagem de inexperiência e uma mensagem confusa, além da falta de carisma.
Quem impõe força é Modi, de 63 anos, que vem de uma família humilde e trabalhou como vendedor de chá quando era criança. O candidato tem experiência e o apoio das massas. Seu trabalho à frente do estado de Gujarat nos últimos 12 anos lhe rendeu uma reputação de bom administrador, com personalidade forte e pró negócios, além do apoio das grandes fortunas e empresários do país.
Seu "mantra político" é o desenvolvimento econômico, um slogan atraente para um país que crescia em torno de 8% na última década, mas diminuiu seus resultados para menos de 5% no ano passado, o menor ritmo dos nove anteriores.
No entanto, as minorias religiosas temem ter um líder que é acusado de ter tolerado o massacre de mil muçulmanos por parte de radicais hindus em 2002, em Gujarat, embora diferentes investigações tenham absolvido Modi.
Entre Gandhi e Modi está Arvind Kejriwal, líder do Partido do Homem Comum, que obteve surpreendentes bons resultados em sua estreia eleitoral em dezembro, nas eleições municipais de Nova Délhi, cidade que governou durante 49 dias.
Naquele pleito, o Partido do Congresso sofreu uma humilhante derrota e perdeu o governo da capital da Índia após 15 anos no poder.
Os bons resultados de Kejriwal, com uma mensagem anticorrupção, representaram para os analistas o cansaço do eleitorado em relação aos partidos históricos e a busca por uma mudança.
Não é provável que Kejriwal repita o sucesso de Nova Délhi, mas o número de cadeiras que conseguir determinarão, em parte, o jogo de alianças para formar o governo depois que os resultados das votações forem apurados.
Esta é a maior eleição democrática do mundo, com 814 milhões de eleitores - 100 milhões deles novos votantes. A nova geração nasceu após a liberalização econômica de 1991, cresceu em uma Índia emergente e, por isso, suas preocupações diferem das de seus pais, algo que gera vantagem para o BJP, segundo os analistas.
As eleições indianas foram historicamente difíceis de prever - em 2004 o Partido do Congresso ganhou inesperadamente do BJP -, mas pesquisas e analistas apontam Modi como o próximo líder indiano, apesar de seus atos autoritários.
"Há um ar de desgosto com o governo atual, portanto os eleitores estão dispostos a passar por cima das singularidades de Modi porque ele não pode ser pior do que o que já têm", disse em recente entrevista o prestigiado historiador Ramachandra Guha, que acredita que a cada geração da dinastia Nehru-Gandhi, o carisma e a conexão desta com o povo indiano foram se perdendo.
As eleições indianas duram 36 dias - de 7 de abril a 12 de maio - e estão divididas em nove fases. A apuração dos votos termina apenas no dia 16 de maio.
Por todo o país haverá 930 mil colégios eleitorais, 12% a mais do que há cinco anos, com 1,4 milhão de urnas eletrônicas.
As máquinas de votação serão levadas até as regiões mais remotas por transporte aéreo, rodoviário, marítimo-fluvial e até mesmo por mulas e elefantes. Ao todo, trabalharão no processo eleitoral 11 milhões de pessoas.