Por Thomas Grove
MOSCOU (Reuters) - O diretor Andrei Zvyagintsev, cuja imagem desoladora de sua terra natal no filme "Leviatã", indicado ao Oscar, dividiu a Rússia, disse nesta quarta-feira que a polarização provou que sua produção "tocou em algo muito importante".
O filme vencedor do Globo de Ouro na categoria filme estrangeiro expõe alguns dos tabus modernos do país, ilustrando a batalha perdida de um homem no extremo norte russo contra um prefeito ganancioso e corrupto e colocando a igreja ortodoxa da Rússia na berlinda.
"A plateia, o país se dividiu sobre ele", afirmou Zvyagintsev em uma coletiva de imprensa para divulgar a exibição russa do filme, que será bastante censurado em função das novas leis contra obscenidade.
"Deveria ter ficado claro que o público iria se polarizar, mas os pontos de vista extremos em relação ao filme mostram que foi um sucesso", disse. "Ele tocou em algo muito importante."
Os admiradores russos da produção dizem que seu enredo espelha a vida na Rússia nos 15 anos passados desde que o atual presidente, Vladimir Putin, ascendeu ao poder, com funcionários públicos corruptos que se enriquecem impunemente às custas da população.
Ironicamente, algumas das críticas mais duras partiram do Ministério da Cultura, que cofinanciou o filme. O titular da pasta, Vladimir Medinsky, acusou Zvyagintsev de sujar a imagem do país para ganhar elogios no Ocidente.
"Filmes dedicados não somente à crítica das autoridades atuais, mas cuspindo abertamente nelas... (filmes) cheios de angústia e desesperança em relação à nossa existência não deveriam ser financiados com o dinheiro dos contribuintes", declarou Medinsky em entrevista a um jornal quando indagado se o ministério iria apoiar filmes semelhantes no futuro.
Zvyagintsev disse que o romance "Crime e Castigo", de Fiódor Dostoiévski, do século 19, também desencadeou protestos nas ruas quando partes do livro foram publicadas pela primeira vez, mas teve dificuldades para explicar que não estava traçando paralelos entre ele e o grande autor russo.
"Leviatã", filmado em grande parte no vilarejo de Teriberka, no Mar de Barents, estreou na metade de 2014, mas os cinemas da Rússia só irão exibi-lo a partir de fevereiro.
O jornal russo Izvestia mencionou um ativista ortodoxo que teria pedido que o filme, que explicita a cooperação dúbia entre o prefeito e o clérigo local, não fosse exibido na Rússia por vilanizar a igreja ortodoxa.