Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em queda ante o real nesta quarta-feira, abandonando a alta de mais cedo conforme os mercados externos melhoraram o sinal no decorrer do dia apesar das tensões sobre a guerra na Europa.
Um novo rali nas commodities, que compõem boa parte da pauta de exportação do Brasil, deu sustentação não apenas à taxa de câmbio, mas também ao mercado de ações. As taxas de juros projetadas em contratos futuros da B3 (SA:B3SA3), contudo, saltaram, com investidores atentos a efeitos do atual momento sobre as perspectivas para a inflação e política monetária.
O dólar à vista caiu 0,91%, a 5,1094 reais.
O pregão começou às 13h (de Brasília) na quarta-feira de Cinzas, e logo no início a cotação bateu a máxima do dia --de 5,2243 reais, alta de 1,32%. Mas a partir daí as compras perderam cada vez mais força, e já perto do fim dos negócios a moeda foi à mínima de 5,1014 reais, queda de 1,06%.
A perda de vigor do dólar aqui "casou" com o movimento visto no exterior. O índice da divisa norte-americana frente a uma cesta de rivais chegou ao fim da tarde quase estável, depois de saltar perto de 0,5% na máxima, quando alcançou picos desde junho de 2020.
Pares do real também melhoraram o sinal, com as principais moedas latino-americanas em valorização depois de perdas de mais cedo. O rublo russo --que entrou em queda livre nos últimos dias-- saltava mais de 9% no dia.
Os mercados recuperaram-se também com as sinalizações de política monetária nos Estados Unidos. O chefe do banco central norte-americano (Fed), Jerome Powell, disse ser favorável a uma alta de 25 pontos-base na taxa de juros neste mês, esfriando ainda mais apostas do mercado de um movimento mais agressivo do Fed, de até 50 pontos-base.
A combinação entre chances de uma política monetária menos apertada nos EUA, matérias-primas em alta e impactos contidos da crise russa na economia mundial poderia ser a senha para o Brasil seguir recebendo recursos, movimento em curso desde o começo do ano e que tem sido citado como um dos fatores para a valorização do real, a divisa de melhor desempenho do mundo em 2022.
"Com uma volatilidade cambial relativamente mais estável nos mercados emergentes fora da região CEMEA (Europa, Oriente Médio e África), o cenário macro atual permite que investidores iniciem estratégias de retorno/volatilidade favoráveis, particularmente em dólar/real", disseram estrategistas do Bank of America (NYSE:BAC).
"O real tem o maior retorno ajustado pela volatilidade para um mês entre pares emergentes da Ásia e América Latina e, como mostrado pelo z-score positivo, a relação retorno/volatilidade vem aumentando desde o ano passado devido ao aperto monetário em curso pelo Banco Central", acrescentaram.
O retorno de um ano embutido em contratos a termo de real está em 12,3% ao ano, depois de começar o ano passado em pouco mais de 2%. O patamar atual é o mais alto desde o começo de 2016.