Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou na mínima em dois meses frente ao real nesta terça-feira, com a moeda brasileira exibindo o melhor desempenho global nesta sessão, amparada por expectativas de suporte do Banco Central, em meio a um dia amplamente positivo para ativos brasileiros.
O dólar à vista caiu 1,96%, a 5,3335 reais na venda, menor patamar desde 17 de setembro (5,2319 reais). A moeda está 7,46% abaixo da máxima de 29 de outubro (5,7635 reais), alcançada antes, portanto, das eleições nos Estados Unidos.
A moeda recuou durante toda a sessão, indo de uma máxima de 5,424 reais (-0,29%) a uma mínima de 5,3244 reais (-2,12%).
Na B3 (SA:B3SA3), o dólar futuro caía 1,67%, a 5,3305 reais, às 17h07.
Antes da abertura do pregão no mercado de câmbio já havia expectativa de queda do dólar na sessão, com operadores comentando comunicado do Banco Central, divulgado na noite da véspera, sobre rolagens de swap cambial tradicional.
Na nota à imprensa, o BC se comprometeu a realizar operações para rolagem integral dos swaps vincendos em janeiro de 2021, mas adicionou que poderia "recalibrar o montante ofertado, conforme as condições de mercado".
A referência foi tida como indicação de que o BC poderia fazer ofertas líquidas desses contratos --cujas colocações equivalem a uma venda de dólares no mercado futuro.
Em comunicados anteriores, a autarquia havia se limitado a sinalizar possibilidade de alteração do lote ofertado a cada dia ou aceitação de propostas em montante inferior à oferta.
O BC fez oferta líquida desses ativos pela última vez em 19 de agosto.
Com novos swaps, o BC aumentaria a liquidez em moeda estrangeira justamente num momento de grande demanda por dólares, na esteira do contínuo desmonte de operações de "overhedge", que no quarto trimestre pode implicar compras líquidas de cerca de no mínimo 15 bilhões de dólares, conforme cálculos de profissionais do mercado.
"O BC sinaliza que segue com a missão de estar atento ao câmbio e atuar se necessário", disse Felipe Pellegrini, gerente de tesouraria do Travelex Bank.
Em 6 de novembro, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, já havia dado indicação semelhante. Na ocasião, ele afirmou que a autoridade monetária deveria atuar no final do ano no mercado de câmbio em função de grande fluxo esperado no país pela questão do "overhedge" dos bancos. No mesmo dia, contudo, o BC divulgou nota afirmando que não antecipa decisões sobre intervenções nos mercados financeiros.
O "overhedge" é uma proteção cambial adicional adotada por bancos e cuja eficiência foi colocada em xeque diante de mudanças, anunciadas neste ano, em regras tributárias. Desfazer o "overhedge" implica compra de dólares, movimento que tem ocorrido desde os primeiros meses do ano e que, segundo analistas, tem grande peso na disparada de 32,91% do dólar em 2020.
Em evento nesta terça, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reconheceu, em breve fala sobre o câmbio, o aumento da volatilidade, mas pontuou que ele não se deu em grande magnitude.
O real é a segunda moeda mais volátil dentre seus principais rivais emergentes, atrás apenas da lira turca.
O mercado abriu com o dólar em queda colocando nos preços o sinal do BC, mas acelerou a baixa entre 10h30 e 14h30, por volta de quando bateu a mínima do dia, diante de fluxo positivo. As taxas futuras de juros foram às mínimas do dia, e o Ibovespa alcançou as máximas, num típico movimento de "compra de Brasil".
"O 'overnight' do Brasil foi bom", disse um gestor, citando a sinalização do BC e notícia de que o novo programa social do governo federal que irá substituir o Bolsa Família já está pronto e deve ser lançado no começo de dezembro, conforme dito no fim da segunda-feira pelo ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni. O ministro acrescentou que o programa social tem um orçamento próprio.
As vendas de dólares no Brasil foram respaldadas ainda pelo dólar fraco no exterior e pela tentativa de recuperação dos mercados de ações em Wall Street no fim da tarde.