SÃO PAULO (Reuters) - Longa de estreia do diretor mineiro Ricardo Alves Jr., “Elon Não Acredita na Morte” é um denso mergulho no inferno pessoal de seu protagonista, Elon (Rômulo Braga, prêmio de melhor ator no Festival de Brasília 2016), em busca da mulher desaparecida, Madalena (Clara Choveaux).
Assumindo o ponto de vista de seu atormentado personagem, constrói-se meticulosamente uma dramaturgia amparada no corpo de seu empenhado ator e também em sua ocupação de espaços.
Estes espaços estão num prédio abandonado (onde ele é um fantasmagórico vigia noturno), com longos corredores, escadarias que parecem só levar para baixo, janelas com grades, tudo isso propositalmente imerso numa luz escura ou quase inexistente (belo trabalho do fotógrafo Matheus Rocha).
Os cenários, aliás, são uma espécie de outro personagem na história, pelo profundo significado e simbologia que assumem.
A inspiração do roteiro vem de um paciente de um centro de saúde mental de Belo Horizonte que o diretor conheceu e que se autodenominou Elon Rabin -- que aparece num curta de Ricardo Alves Jr., “Tremor” (2013), exibido no Festival de Brasília e vencedor do prêmio de melhor direção.
Pela forma como a história é conduzida, chega-se a ter todo o tipo de dúvidas, até sobre a existência dessa mulher desaparecida.
No fundo, o que a narrativa sugere é um jogo que depende da ativa participação do espectador, seguindo o protagonista em seus percursos pelas ruas e pelo labirinto do prédio vazio onde ele trabalha, numa trajetória que sugere a descida de Orfeu aos infernos em busca de sua perdida Eurídice, a trama mitológica que já inspirou filmes como “Orfeu do Carnaval” (59), de Marcel Camus, e “Orfeu” (99), de Cacá Diegues.
O escopo e as ambições de “Elon Não Acredita na Morte”, no entanto, são bem mais modestos -- e o tom, mais sombrio.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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