LISBOA/LONDRES (Reuters) - As esperanças de Portugal de deixar para trás os problemas financeiros e de governança no Banco Espírito Santo (BES) foram frustrados nesta quinta-feira, quando investidores se assustaram com perdas maciças e a revelação de potenciais atividades ilegais no maior banco listado do país.
As ações do BES caíam mais de 40 por cento às 15h20 (horário de Brasília), um dia após o banco divulgar prejuízo de 3,6 bilhões de euros e provisões maiores que as esperadas para cobrir sua exposição a companhias em poder da família Espírito Santo, fundadora do banco.
Entre as revelações estão duas cartas emitidas pelo banco em favor de credores do grupo Espírito Santo mas que nunca foram registradas nos livros da instituição financeira.
O banco central de Portugal suspendeu funcionários de alto escalão do banco, mas investidores temem sobre quais outras surpresas podem estar à frente.
Depois das revelações, o desejo do BES de realizar um aumento de capital, sem buscar ajuda do governo português, agora é um desafio mais duro de ser cumprido.
O Bradesco, que detém fatia de 3,9 por cento no BES, disse nesta quinta-feira que "não tem interesse" em um eventual aumento de capital do banco português.
O Ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, Luís Marques Guedes, expressou preocupações de que a crise envolvendo o BES e outras holdings da família Espírito Santo dificultarão a recuperação do país de sua pior recessão em quatro décadas.
"É evidente que uma economia como a portuguesa ressente-se necessariamente de uma situação tão grave como aquela que atravessa um grande grupo econômico, como é o Grupo Espírito Santo", disse Marques Guedes a jornalistas, apesar de afirmar que a economia deve continuar crescendo.
O BES foi o único banco português a não ser resgatado durante a crise financeira. A nova gestão da instituição, nomeada em 14 de julho após a família Espírito Santo perder o controle da instituição, quer manter tal status.
No fim da quarta-feira, o banco central de Portugal disse que recursos públicos estão disponíveis se qualquer banco necessitar deles.
"O Banco de Portugal e o novo presidente-executivo do BES comentaram que investidores privados querem participar. Mas o Estado e/ou detentores de bônus têm que ser envolvidos?", questionou o analista Stefan Nedialkov, do Citi, em relatório.
O BES não informou quanto capital vai buscar. João Lampreia, analista do Banco BiG em Lisboa, estimou que a quantia seria de cerca de 3 bilhões de euros.
O banco levantou capital pela última vez em 11 de junho, vendendo 1 bilhão de euros em ações com desconto para investidores atuais em uma operação que diluiu a participação majoritária da família Espírito Santo.
(Por Laura Noonan e Andrei Khalip)