Por Alister Doyle
OSLO (Reuters) - Um pacto que envolve quase 200 nações e que visa a reduzir a emissão dos gases causadores do efeito estufa e utilizados em refrigeradores e ar-condicionados pode ficar aquém das expectativas dos governos de evitar o aumento neste século de 0,5 graus Celsius na temperatura global, afirmam cientistas.
O acordo de sábado em Kigali, na Ruanda, é o maior passo para limitar as mudanças climáticas desde o acordo global em Paris no ano passado, para deixar, ainda neste século, o uso de combustíveis fósseis. Na 28ª Reunião das Partes do Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio foi aprovada emenda ao protocolo que estabelece compromisso de redução do consumo e da produção dos hidrofluorcarbonos (HFCs) para todos os países.
Em meio às comemorações do pacto de Kigali, vinculado legalmente e que busca reduzir progressivamente o uso de hidrofluorcarbonetos, muitos governos e ambientalistas disseram que poderia evitar o aumento de 0,5 ºC neste século, citando um estudo científico de 2013.
Alguns pesquisadores, no entanto, esperam que esse número seja menor.
Ansiosos para declarar vitória, os governos seguem incertos sobre os HFCs. Pesquisas mais recentes indicam que os HFCs são menos potentes na retenção de calor do que o temido, disse Michiel Schaeffer, do Climate Analytics.
"Meu palpite seria aumento de cerca de 0,2 graus Celsius até 2100", disse ele. O Climate Analytics é um dos quatro grupos europeus de pesquisa que trabalham em conjunto na projeção de temperaturas com base em promessas do governo.
Indicadores do clima mostram que o corte de gases de efeito estufa prometido pelos governos –se fosse realizado antes do acordo de HFC- elevaria as temperaturas médias em 2,7 °C desde o período pré-industrial até 2100.
Guus Velders, um dos autores do estudo de 2013 sobre HFCs e aquecimento, disse que seus cálculos sobre o impacto do acordo de Kigali mostram que os HFCs estão propensos a atingir um aquecimento de 0,06 °C neste século, abaixo da média de 0,3 °C a 0,5 °C caso nada fosse feito.
De acordo com ele, é melhor fornecer uma média devido às muitas incertezas. Usando apenas um número "parece que você sabe mais do que faz", disse Velders, que trabalha no Instituto Nacional Holandês para a Saúde Pública e o Meio Ambiente.