Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - Após trocar de sinal pelo menos oito vezes durante a sessão, o dólar terminou esta terça-feira em queda pelo terceiro dia seguido, com investidores ponderando as declarações do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, sobre o programa de intervenções da autoridade monetária no câmbio.
A moeda norte-americana caiu 0,57 por cento, a 3,1275 reais na venda, depois de recuar 1,68 por cento na mínima da sessão e subir 0,89 por cento na máxima. Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de 700 milhões de dólares.
Nas três últimas sessões, a divisa acumulou queda de 5,13 por cento.
A participação de Tombini em audiência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado ocupou o centro das atenções. O presidente do BC afirmou que o programa de intervenções no câmbio é importante em um momento de normalização da política monetária norte-americana, mas ao mesmo tempo repetiu que o atual estoque de swaps cambiais já dá conta da demanda por proteção cambial.
A maior parte dos agentes financeiros consultados pela Reuters acredita que a interpretação mais plausível é que o BC pretende acabar com as intervenções diárias no câmbio, mas rolar integralmente os contratos que vencerão nos próximos meses. Mas essa avaliação não vinha sem uma boa dose de dúvidas.
O operador Jefferson Luiz Rugik, da corretora Correparti, viu nas declarações uma "dualidade".
Combinados com o dado de recuperação dos preços ao consumidor norte-americano em fevereiro, que colocou de volta na mesa a possibilidade de uma alta de juros nos EUA em junho, esses ruídos levaram o dólar a anular a queda vista no início da sessão e passar a operar em alta ante o real.
Mais tarde, contudo, o dólar voltou a cair, após Tombini afirmar que o BC poderia manter o nível atual de swaps cambiais em circulação, equivalente a cerca de 115 bilhões de dólares, por "dez, vinte anos".
"O mercado está muito sensível, então qualquer frase mais direta acaba fazendo um estrago", disse um operador de uma corretora internacional.
O mercado digeriu ainda a decisão de segunda-feira da agência de classificação de risco S&P, divulgada após o fechamento do câmbio à vista, de afirmar a nota soberana do Brasil em "BBB-", com perspectiva estável, citando as mudanças na condução da política econômica no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
O mercado futuro de câmbio, que continuava em atividade, ainda reagiu à notícia da S&P, com o primeiro contrato de dólar ampliando as perdas e fechando com queda de 3,05 por cento, na mínima.
"É um voto de confiança no governo em um momento em que o mercado estava com medo de o Brasil perder o grau de investimento", disse o superintendente de câmbio da corretora Tov, Reginaldo Siaca.
Nesta manhã, o BC deu continuidade às intervenções diárias no câmbio, vendendo a oferta total de até 2 mil swaps cambiais. Todos os contratos vendidos vencem em 1º de dezembro de 2015. Também foram ofertados contratos para 1º de março de 2016, mas nenhum foi colocado.
A autoridade monetária também vendeu a oferta integral no leilão de rolagem dos swaps que vencem em 1º de abril. Até agora, rolou cerca de 61 por cento do lote total, que corresponde a 9,964 bilhões de dólares.