São Paulo, 22 mai (EFE).- Único brasileiro a ter alcançado o primeiro lugar do ranking da ATP, o ex-tenista Gustavo Kuerten, que comemora dez anos da conquista do tricampeonato do torneio de Roland Garros, elogiou o nível atual do tênis, mas destacou que a modalidade está polarizada, algo que não acontecia há alguns anos.
"É praticamente inacreditável as coisas que vem acontecendo no tênis. É de difícil compreensão porque não se via isso há muito, muito tempo. (As coisas estão voltando para) a época que não era nem Open e ainda não era nem Aberto, como eles chamavam. O que é estranho é a diferença que existe hoje entre uns poucos jogadores e a maioria dos outros. Nos últimos 20 anos não tinha tanto isso", declarou Guga, em entrevista publicada neste domingo pelo jornal "O Estado de S. Paulo".
O ex-tenista, que deixou a raquete em 2008 após cair na primeira rodada no saibro francês e tem atualmente 34 anos, considerou que o tênis é mais homogêneo que antes porque as diferenças de jogo entre os tipos de quadra se diluíram.
"O tênis mudou bastante, mas no sentido de que hoje as superfícies são mais homogêneas: a quadra rápida já não é mais tão rápida e o saibro não é tão lento. Tudo é mais o meio termo. Isso corresponde, em fatos reais, que o Nadal tem condições de ganhar Roland Garros e Wimbledon, assim como o Federer já o fez, e o Djokovic tem a possibilidade", raciocinou.
Guga relembrou os títulos de 1998, 2000 e 2001 no Grand Slam de Paris, cuja edição de 2011 começou neste domingo, e deu destaque para a última conquista, em que derrotou o espanhol Alex Corretja na decisão após quase ter sido eliminando nas oitavas de final para o americano Michael Russell.
"Na realidade, naquele jogo, e até agora considero, eu estava fora do campeonato. Ele estava me ganhando por 2 sets a 0, 5-2 no terceiro set. Naquela situação, já tinha desistido. Foi algo muito mais do acaso do que da persistência porque, se me lembro, no match point, eu estava tão desinteressado que cheguei a jogar duas ou três bolas boas as quais não me importava mais se iriam dentro ou fora. Já contava como perdido aquele jogo", revelou.
Para o brasileiro, que terminou o ano de 2000 como número 1 do mundo, aquela vitória foi uma prova da imprevisibilidade da modalidade.
"Neste lado, o tênis - o esporte como um todo, mas o tênis especificamente - é capcioso ao extremo: um centímetro, às vezes meio... Acertei duas bolas na linha no match point que se fossem fora, eu estaria em casa hoje e teria dois troféus apenas. Em outro ponto, a sensação já foi completamente oposta: eu estava com reais chances de vencer a partida, em questão de, no máximo, 30 segundos. Ou seja, foi o oposto dos sentimentos. É um pouco do tênis", acrescentou. EFE