Maribel Izcue e Yoko Kaneko.
Fukushima (Japão), 5 mar (EFE).- Pôr Fukushima de pé sem o estigma da radioatividade é o objetivo das autoridades desta província japonesa, que quase um ano depois do acidente nuclear trabalha para evitar o isolamento e reforçar a comunicação entre os organismos estatais.
"Estamos na fase de recuperação, mas ainda há muito que fazer", explica Masami Watanabe, superintendente da polícia provincial e um dos "heróis de Fukushima" que viajou em outubro do ano passado para a Espanha para receber o Prêmio Príncipe das Astúrias da Concórdia.
Watanabe recebe a Agência Efe em uma sala onde exibe um retrato seu com os Príncipes das Astúrias - "fiquei impressionado e agradecido por este gesto de reconhecimento ao Japão", diz sobre o prêmio -, enquanto nos escritórios adjacentes há um vaivém de agentes que trabalham entre pilhas de papéis.
Nos corredores do edifício, no centro da cidade de Fukushima, ainda há rachaduras abertas pelo terremoto de nove graus que em 2011 devastou a região a transformou no epicentro da pior crise nuclear desde Chernobyl.
A catástrofe obrigou a polícia assumir responsabilidades nunca antes imaginadas nesta tranquila província montanhosa, como fazer medições de radioatividade, vigiar a central de Daiichi para impedir "atos de terrorismo nuclear" e evitar roubos nas milhares de casas abandonadas pela população.
"Agora temos 2,8 mil policiais, contando com o apoio de cerca de 250 agentes vindos de outras províncias do Japão", informa Watanabe, que comanda um departamento especial de desastres para enfrentar os problemas derivados da crise.
Mais de 11 meses depois do devastador tsunami, que só em Fukushima deixou 1.605 mortos, os policiais ainda procuram os 216 desaparecidos para poder devolver seus restos mortais às suas famílias.
Também patrulham os 181 bairros de casas provisórias na região para garantir a segurança dos cerca de 97 mil refugiados, confirma o chefe da polícia, enquanto mostra uma revista com fotos das ondas gigantes de 11 de março que lembram, mais uma vez, a magnitude do desastre.
A emergência obrigou muitas pessoas, como o próprio Watanabe - que então era responsável da polícia de Futaba, povoado aos pés da usina nuclear -, a tomarem decisões cruciais sozinhas diante da falta de comunicação.
Isso, explica, evidenciou a necessidade de estabelecer uma "maior coordenação" entre os diferentes corpos de regaste e garantir uma rede de comunicação sólida, algo no qual já se trabalha, com a aquisição de telefones via satélite e o estabelecimento de novos protocolos de comunicação.
O peso de tomar decisões isoladamente também foi sentido pelos responsáveis municipais como Katsunobu Sakurai, prefeito da cidade de Minamisoma, a 25 quilômetros da usina nuclear e que ficou incomunicável durante vários dias após o acidente.
"O importante era tomar decisões rapidamente com um critério básico: sobreviver", diz à Efe o prefeito, que ganhou destaque na imprensa por colocar no YouTube um vídeo em que pedia socorro no final de março, em pleno pânico nuclear.
Na mensagem, que lhe rendeu um lugar na lista das cem pessoas mais influentes do mundo da revista "Time", Sakurai denunciava aborrecido o abandono do povo e a pouca informação recebida do Governo: "Nem sequer sabíamos como organizar a retirada das pessoas", lembra agora.
Por isso, insiste que uma das lições do terremoto é a necessidade de uma boa rede de comunicação diante de emergências, algo no qual já estão trabalhando.
"O mais importante é saber o que está acontecendo em cada momento nos lugares com problemas, e a partir daí tomar decisões rápidas", ressalta este homem de 56 anos, que define 2011 como "um ano de constante suor frio".
Agora, a prefeitura de Minamisoma está em contato direto com o Governo regional e a polícia, que vigia o acesso à vizinha zona de exclusão em torno da central, e é consciente que para evitar que esta cidade se torne um lugar fantasma marcado pela radioatividade, será necessária muita ajuda.
Os projetos para o município têm como objetivo recuperar a indústria "o mais rápido possível" e, pelo fato da agricultura estar ainda paralisada pela proximidade à usina nuclear, se estudam setores como o das energias renováveis, diz.
Além disso, está entre seus planos colocar um novo vídeo no YouTube para pedir "que gente do mundo todo venha à cidade" sem medo da radioatividade. Apesar do empecilho nuclear, "Minamisoma sem dúvida vai seguir em frente", conclui. EFE