Por Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA (Reuters) - A avaliação negativa do governo da presidente Dilma Rousseff disparou para 64 por cento em março, ante 27 por cento em dezembro, em meio à piora no cenário econômico, mostrou pesquisa CNI/Ibope divulgada nesta quarta-feira.
O maior impacto é decorrente de fatores econômicos como desemprego, inflação alta e aumento dos juros, e o desempenho ruim se aprofundou entre os eleitores da petista e em todos os estratos sociais e regiões do país, segundo a avaliação contratada pela Confederação Nacional da Indústria.
Na outra ponta, o número dos que avaliam o governo como ótimo ou bom despencou para 12 por cento, ante 40 por cento em dezembro. É a pior avaliação positiva de um presidente da série histórica da pesquisa. Apenas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso atingiu patamar semelhante, no início do seu segundo mandato em 1999, quando chegou a ter aprovação positiva de 16 por cento.
A CNI não apresentou dados referentes aos governos dos ex-presidentes Itamar Franco, Fernando Collor e José Sarney.
A pesquisa apontou ainda que 23 por cento avaliam o governo como regular, ante 32 por cento em dezembro.
"O quadro atual de intensificação da crise, inflação, aumento do desemprego e ajuste fiscal com aumento de juros está impactando", explicou o gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca.
"A nossa análise é que claramente é a questão econômica (que está derrubando a popularidade)", afirmou. "As perspectivas não são boas."
Em dezembro, o percentual de pessoas que consideravam o governo Dilma ótimo ou bom e disseram ter votado nela no segundo turno das eleições de 2014 era de 63 por cento. Agora, esse percentual é de 22 por cento.
Entre os declarados eleitores do candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), a aprovação do governo caiu de 12 por cento para 2 por cento.
Também há uma queda brusca entre os eleitores declarados de Dilma na aprovação da maneira de governar, que desabou de 80 por cento em dezembro para 34 por cento em março. Entre seus eleitores, aqueles que confiam na presidente somaram 42 por cento em março, ante 80 por cento em dezembro.
Na Região Nordeste, onde Dilma ganhou com folga as últimas eleições, sua aprovação caiu muito. Em dezembro, 63 por cento dos nordestinos entrevistados consideravam sua gestão ótima ou boa. Em março, esse percentual caiu para 34 por cento.
Considerando o total de entrevistados no país, a aprovação da maneira de governar da presidente desabou para 19 por cento, comparado aos 52 por cento de dezembro, enquanto a desaprovação saltou para 78 por cento, ante 41 por cento. Esse também é o pior patamar da série histórica da pesquisa para presidentes.
O levantamento mostrou também que três em cada quatro brasileiros não confiam na presidente. Segundo a sondagem apenas 24 por cento dos entrevistados confiam em Dilma, contra 51 por cento que confiavam nela em dezembro, enquanto 74 por cento não confiam, ante 44 por cento.
Segundo a pesquisa, a perspectiva futura do governo também é ruim para Dilma. Para 55 por cento dos entrevistados, ela fará um governo ruim ou péssimo daqui para frente. Apenas 14 por cento acreditam que a gestão será ótima ou boa no restante do mandato. Para 76 por cento dos entrevistados, Dilma está fazendo um segundo governo pior do que o primeiro.
APOIO DESPENCA ENTRE JOVENS
Além de a queda de popularidade da presidente ter sido registrada em todas as regiões, também se disseminou entre pessoas com diferente grau de escolaridade e em todas as faixas etárias.
Entre os eleitores com ensino até a 4a série do Ensino Fundamental a avaliação ótima/boa do governo despencou de 53 por cento em dezembro para 18 por cento agora, uma queda de 35 pontos percentuais.
Entre os mais jovens, de 16 a 34 anos, a queda de popularidade é expressiva. Em dezembro, na faixa etária entre 16 e 24 anos a aprovação da maneira de governar de Dilma chegava a 51 por cento e agora é de apenas 14 por cento. Entre os que têm de 25 a 34 anos, a avaliação positiva caiu de 49 por cento para 13 por cento.
Para Fonseca, porém, a popularidade da presidente também pode estar impactada negativamente pelos recentes protestos e, portanto, seria difícil uma nova queda de avaliação nos próximos levantamentos, mesmo com a piora das perspectivas econômicas.
"Ela caiu muito, acho que é difícil uma queda maior ainda", disse. "Não me surpreenderá se a próxima pesquisa trouxer um aumento (de popularidade) em relação a março, mas a expectativa (ruim) da situação econômica continua e seria uma avaliação abaixo da de dezembro", acrescentou Fonseca.
O Ibope ouviu 2.002 pessoas em 142 municípios entre os dias 21 e 25 de março. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais.