Alfonso Fernández.
Washington, 12 abr (EFE).- O Banco Mundial (BM) ressaltou nesta terça-feira que a exposição da economia da América do Sul aos preços das commodities no mercado internacional é "única" no mundo e, por isso, prevê uma contração de 2% da região neste ano.
"A América do Sul é refém do ciclo das matérias-primas e da China, tem uma dependência única desses elementos, inclusive maior do que os países da África", ressaltou o economista-chefe do BM para a América Latina, Augusto de la Torre, na entrevista coletiva em Washington para apresentar o relatório do órgão sobre a região.
No entanto, destacou De la Torre, a situação é heterogênea. Alguns países foram especialmente afetados e tem menor espaço fiscal de reação, como é o caso da Argentina, da Venezuela e do Brasil. Outros, como Chile, Peru e Colômbia, mantiveram a prudência macroeconômica e enfrentam uma situação menos exigente.
"O certo é que o excesso de demanda do passado restringe a capacidade de manobra do presente", completou De la Torre.
O auge dos preços das matérias-primas, respaldados pelo forte crescimento da China, teve efeitos positivos "sem precedentes" para reduzir a pobreza pela metade na América Latina, disse o economista-chefe do BM, mas provocou um "efeito miragem" que levou muitos países a "gastar demais e não economizar o suficiente".
No caso do Brasil, imerso em uma grave crise econômica, as perspectivas são mais favoráveis. Na avaliação do BM, o país conseguirá recuperar a confiança assim que pôr fim à atual incerteza política, que funciona como um freio sobre os investimentos.
O caso mais claro da exposição às commodities é a da Venezuela, cuja absoluta dependência da exportação de petróleo levou o país a descuidar de qualquer outro aspecto macroeconômico e a enfrentar uma recessão estimada superior a 8,3% para esse ano.
No entanto, a prudência na gestão dessas receitas adicionais geradas pelas matérias-primas pode dar frutos. Assim é o caso da Colômbia, com previsão de crescimento de 2,5% neste ano e 3% no próximo, do Chile, com 1,5% em 2016 e 2,1% em 2017, e, sobretudo, do Peru, com 3,7% e 4,1%, respectivamente.
De la Torre destacou que uma das metas dos países latino-americanos é aumentar suas taxas de poupança, atualmente muito inferiores em relação a outras economias em desenvolvimento.
No norte da região, a situação é bem mais favorável, graças principalmente ao bom comportamento da economia dos Estados Unidos, que serviu como impulso para a América Central e México.
Caso à parte é o Panamá, que continua com taxas de crescimento asiáticas: as previsões indicam 6,1% neste ano e 6,4% no próximo.
De la Torre afirmou que o escândalo dos Panama Papers terá algum efeito adverso sobre o país, mas que ele será "menos potente do que o esperado", porque a economia está girando em torno dos serviços ligados à ampliação do canal do Panamá.