Paris, 27 fev (EFE).- O editor, tradutor, lexicólogo e professor universitário João Baptista de Medeiros Vargens recebeu nesta segunda-feira o prêmio UNESCO-Sharjah de Cultura Árabe por seu envolvimento no estudo da influência do idioma árabe na língua portuguesa.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconheceu os trabalhos de Medeiros Vargens (Rio de Janeiro, 1952) "destinados a destacar o valor da presença da civilização árabe-muçulmana no Brasil, e em geral, nos países de língua portuguesa".
"É muito importante para mim, mas também para a Universidade Federal do Rio de Janeiro e é um reconhecimento para todos os arabistas brasileiros, somos poucos, mas trabalhamos muito", declarou à Agência Efe pouco antes de receber o prêmio em cerimônia presidida pela diretora-geral da Unesco, Irina Bokova.
Medeiros Vargens lembrou que são cerca de três mil as palavras de origem árabe na língua portuguesa, a maior parte procede da Península Ibérica, pela presença muçulmana no território de Portugal e Espanha durante vários séculos.
Ele ressaltou que atualmente residem no Brasil cerca de 12 milhões de árabes e enumerou os diferentes altos cargos do Governo federal e regional que têm origem árabe.
O arabista destacou a grande presença do árabe "na vida cotidiana do Brasil, como por exemplo na primeira escola de samba criada em 1929", como sinal do forte presença de brasileiros dessa origem em instituições tão marcadamente cariocas, neste caso.
Ele também falou sobre a importante influência dos brasileiros de ascendência árabe no âmbito econômico e comercial, assim como dos negociantes que chegaram ao país e precisavam aprender a língua para fazer negócios.
Medeiros Vargens lembrou que a presença de cidadãos brasileiros de origem árabe não se resume às grandes cidades, mas também é forte em aldeias do norte do país, na Amazônia, e destacou a influência da língua na literatura brasileira do século XX.
Além do professor Medeiros Vargens, a Unesco agraciou o escritor libanês Elias Khoury (Beirute, 1948), por ser "testemunha do sofrimento humano, que o fez ser conhecido no mundo todo".
"Seu combate e sua produção literária criaram a imagem de um intelectual livre que dá voz aos que não têm", destacou a organização com sede em Paris.
Criado por iniciativa dos Emirados Árabes Unidos, o prêmio UNESCO-Sharjah para a cultura árabe recompensa os esforços de duas personalidades, uma com origem no mundo árabe e outra de um país não árabe, por sua contribuição ao desenvolvimento e a difusão dessa cultura por meio de suas obras artísticas, intelectuais ou de promoção.
O prêmio está dotado de US$ 30 mil para cada um dos ganhadores. EFE