Por Yana Shebalina, do Investing.com Rússia
Investing.com - Antes do início de 2014 e da introdução das primeiras grandes sanções contra a Rússia devido à situação na Ucrânia, quase ninguém pensava na correlação entre os preços do rublo e os do petróleo. Mas após o início da crise, a correlação entre os indicadores se tornou evidente; nos últimos anos, o custo do petróleo afetou diretamente o orçamento russo.
E embora a economia interna venha tentando se distanciar, afastar da dependência do petróleo e do gás natural, ela ainda segue nesse padrão de dependência. No entanto, no início deste ano, os especialistas do Tribunal de Contas da Federação Russa disseram que a dependência do orçamento em relação aos preços do petróleo começa a diminuir. No resumo do Monitoramento Econômico, elaborado pelo Departamento de Auditoria do Desenvolvimento Econômico do Tribunal de Contas, os especialistas escreveram que, ao longo dos anos, o coeficiente de correlação entre o preço do petróleo e a taxa de câmbio do dólar diminuiu de -0,91 em 2016 para -0,61 em 2020.
O Tribunal de Contas explicou que a queda no índice foi registrada após a introdução de uma taxa de câmbio flutuante, a transição do Banco Central para uma política de metas de inflação e a aplicação da regra orçamental. Assim, em 2014-2017, quando os preços do petróleo passaram de US$ 112 para US$ 24 por barril, uma mudança absoluta de mais de 3,6 vezes, a flutuação do rublo em relação ao dólar passou de 33 para 84 rublos, ou 1,5 vezes.
Ao mesmo tempo, para o período de janeiro de 2018, quando a regra orçamental entrou em vigor, até fevereiro de 2020, quando as cotações do petróleo passaram de US$ 85 para US$ 48 por barril, ou cerca de 80%, a flutuação do rublo em relação ao dólar esteva em uma faixa relativamente estreita de 56 a 70 rublos, ou 25%.
Como resultado, os analistas da JV concluíram que os preços do petróleo continuam a afetar o rublo, mas existem outras influências mais importantes. Eles incluem a redução das transações correntes no balanço de pagamentos da Rússia e os riscos geopolíticos externos, incluindo a ameaça constante de novas sanções.
Andrey Kochetkov, analista da Otkritie Broker, diz que o rublo é uma das moedas mais subvalorizadas do mundo, e não é por causa do alto preço do petróleo, mas devido a fortes fundamentos. A Rússia tem um excedente comercial, um excedente de transações correntes e uma dívida externa bastante reduzida.
LEIA MAIS: Moedas de Brasil, China e Turquia estão 'subvalorizadas', diz IIF
"Estamos acostumados ao petróleo custar 3.000 - 3.500 rublos por barril. Nos últimos anos, porém, a taxa de câmbio do rublo deixou de se correlacionar com o preço do petróleo. A regra orçamental é, em parte, a culpada por isso. Na verdade, o preço elevado do petróleo começou a ter um impacto negativo na taxa de câmbio do rublo. Quanto mais altos forem os preços do petróleo, mais recursos são gastos pelo Ministério das Finanças para a compra de moeda estrangeira, o que exerce pressão sobre o rublo", diz Kochetkov.
De acordo com os dados do final de outubro de 2021, apesar da implementação da regra orçamentária, a correlação entre a dinâmica do ouro negro e o rublo atingiu um valor recorde desde o segundo semestre de 2020, em 50%. Vladimir Bragin, chefe de pesquisa da Alfa Capital Asset Management, prevê que a taxa de câmbio do rublo continuará a ser influenciada pelos movimentos dos preços do petróleo em 2022, além dos fatores fundamentalistas. Além disso, ela será afetada por sanções e riscos geopolíticos.
Bragin concluiu que, fundamentalmente, pouco importa para o rublo se o petróleo custará US$ 60 ou US$ 100 por barril em 2022. Segundo ele, a única diferença será a velocidade de acumulação de reservas cambiais. Por isso, acrescentou o analista, se considerarmos o preço do petróleo como relacionado ao rublo, faremos isso apenas como um indicador da situação geral na economia e nos mercados.