Buenos Aires, 31 jul (EFE).- O "cerco ao dólar" entrou de vez nesta sexta-feira na campanha eleitoral da Argentina com uma troca de acusações entre o governo, a oposição e a Bolsa de Buenos Aires que aqueceu o clima político e provocou uma nova alta da moeda americana no mercado negro.
Tanto a Casa Rosada (sede do Executivo) como o Banco Central argentino alegaram hoje que desmontar as restrições cambiais impostas no final de 2011 para conter a fuga de divisas equivaleria a uma súbita perda das reservas monetárias e se traduziria em uma desvalorização brusca do peso argentino.
"Se fosse aberta a possibilidade de que qualquer um fosse a qualquer lugar e comprasse dólares, como dizem eles (a oposição), perderíamos as reservas em três dias e automaticamente colocaríamos a Argentina nas piores condições", assegurou hoje o chefe de gabinete, Aníbal Fernández, em sua entrevista coletiva diária.
A economia, em particular o "cerco cambial", assumiu protagonismo na campanha para as primárias que serão realizadas no próximo dia 9 de agosto para definir os candidatos das eleições presidenciais de outubro.
A discussão ganhou força nas últimas semanas quando o preço da moeda americana no mercado informal - uma prática que floresceu após a imposição de restrições para comprar divisas em bancos e casas de câmbio - começou a disparar, até tocar na semana passada um máximo no ano de 15,10 pesos por unidade.
Um avanço que obrigou o Banco Central a adotar medidas, como aumentar as taxas de juros, para incentivar os depósitos bancários em pesos e evitar uma fuga rumo à compra de dólares.
O chamado "dólar blue", cuja comercialização é considerada ilegal pelo governo, começou a semana em retrocesso, mas finalmente retomou a curva de alta e hoje fechou à beira dos 15 pesos por unidade, frente aos 9,19 pesos da cotação oficial.
"O cuidado das divisas continua sendo uma prioridade para os argentinos, que não emitimos dólares. Os dólares vêm da balança comercial", afirmou o chefe de gabinete, ressaltando que a Argentina tem "muitas reservas" monetárias, de US$ 33,9 bilhões, "que são protegidas e cuidadas como corresponde".
Segundo o ministro, a Argentina "tem uma moeda forte", embora o peso possa "atravessar uma situação circunstancial com um nível mínimo de desvalorização", que situou em 15% anual.
Para Aníbal Fernández, as propostas de parte da oposição, em particular do partido conservador Proposta Republicana (Pró), de acabar com o "cerco" é "uma enorme mentira eleitoral".
No meio da tempestade, o presidente do Banco Central argentino, Alejandro Vanoli, advertiu hoje que "se alguém propõe suspender todas as regulações cambiais, está propondo uma desvalorização e um vazio das reservas".
"Acredito que faz parte de uma visão liberal que sempre se expressou, e que não compartilho, porque entendo que o Estado tem que intervir para evitar a volatilidade financeira", comentou Vanoli em declarações a uma emissora local.
Vanoli acrescentou que "o merco do dólar ilegal é muito pequeno e, certamente, nada transparente", e garantiu que o Banco Central "vai continuar utilizando todos os instrumentos de política para que estejam estabilizadas as variáveis financeiras, para manter um nível de reservas".
O titular do Banco Central argentino respondeu assim ao presidente da Bolsa de Buenos Aires, Adelmo Gabbi, que ontem à noite disse que, se não houvesse restrições, o valor do dólar "seria menor".
"Sou dos que aprenderam que tudo o que é proibido tem um valor superior", ponderou Gabbi.
O candidato à presidência pelo Pró e atual prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, também se mostrou a favor de suspender as restrições, mas não explicou como fará isso se chegar à Casa Rosada.
"Nós vamos começar o programa econômico suspendendo o cerco", afirmou nesta quinta-feira Rogelio Frigerio, presidente do Banco Ciudad e um dos líderes da equipe econômica de Macri.
Segundo Frigerio, se Macri for eleito presidente, o país receberá "tantas divisas e investimentos " que o preço do dólar vai cair.