Ingrid Haack.
Berlim, 8 nov (EFE).- Os habitantes de Berlim viveram a noite
mais feliz de suas vidas em 9 de novembro de 1989, quando, no dia da
queda do muro que dividia a cidade ao meio, dezenas de milhares
deles finalmente puderam se abraçar após anos afastados pela
barreira de concreto.
Apesar das maciças fugas registradas nos meses anteriores na
Hungria e na Tchecoslováquia, e das manifestações em Leipzig e
Berlim, que já tinham causado fissuras políticas na muralha, o
momento em si, eternizado por imagens como a de vários alemães
dançando sobre o muro, tomou todos de surpresa.
Exatamente às 18h53 (hora local) daquele dia, o porta-voz do
Politburo (comitê central do Partido Comunista da antiga União
Soviética) Gunther Schabowski anunciou que o Governo da República
Democrática Alemã (RDA, Alemanha Oriental) tinha decidido liberar a
travessia para o lado oeste, direito que até então era exclusivo dos
aposentados e de uns poucos privilegiados.
As imagens dessa entrevista foram repetidas à exaustão no mundo
todo, sobretudo aquelas em que um jornalista italiano pedia a
Schabowski que especificasse a hora em que a medida entraria em
vigor.
"Na minha opinião, entra em vigor... imediatamente... neste
momento", titubeou Schabowski, que ainda consultou alguns papéis
antes de dar a resposta.
Muito se debateu sobre a espontaneidade da pergunta do italiano e
a respeito de um possível engano de Schabowski, tese esta defendia
pelo então secretário-geral do Partido Socialista Unificado (SED),
Egon Krenz, segundo quem a ordem passaria a valer no dia seguinte, o
que teria dado às autoridades tempo para se preparar para a
situação.
Felizmente, tudo transcorreu de forma pacífica, apesar de os
soldados posicionados na fronteira terem sido pegos totalmente de
surpresa.
Os primeiros a dar a notícia foram os meios de comunicação
ocidentais: a agência alemã "DPA", dez minutos após o ocorrido, e as
TVs públicas, em seus noticiários da hora seguinte.
A TV estatal da RDA, por outro lado, manteve-se em silêncio. Só
no telejornal das 20h é que o apresentador da "ARD" informou: "O
muro está aberto".
A notícia fez milhares de alemães do lado leste de Berlim
começarem a formar filas diante de vários postos fronteiriços para
confirmar com os próprios olhos algo em que era tão difícil de
acreditar.
Enquanto na metade oeste do país foi difícil alguém não ter
ficado a par do ocorrido em alguns instantes - milhares de pessoas
saíram ao encontro dos vizinhos que estavam do outro lado do muro -,
na Berlim Oriental muita gente só soube do que estava acontecendo
horas depois, quando a TV começou a falar das filas nas fronteiras.
"Como a maioria dos cidadãos da RDA, eu não podia ver os canais
de TV ocidentais. Nesse dia, quando cheguei em casa, fiz o que
sempre fazia: coloquei na janela o cabide de roupa que servia de
antena e liguei a televisão", relembra Angela Hampl, natural de
Leipzig e que à época já vivia em Berlim e estava a poucas semanas
de dar à luz.
"Vi que davam permissão para viajar e as imagens de carros se
dirigindo ao muro. Na hora, não entendi muito. Por isso, preferi não
dar mais importância àquilo e fui dormir", conta.
O que no mundo midiatizado de hoje seria quase impossível, em
1989 foi bem diferente, já que telefones celulares não existiam e na
RDA sequer havia telefone fixo em todas as casas. Além disso, a TV
ocidental era proibida de retransmitir sua programação do outro lado
do muro.
Talvez essa falta de informação é que tenha evitando que o
suposto "equívoco" de Schabowski acabasse virando uma catástrofe,
uma vez que, embora milhares de pessoas tenham se reunido em frente
à barreira, não houve caos nos postos fronteiriços, apenas alguns
tumultos.
A festa vista naquele dia se repetiu nos dias posteriores, quando
os alemães do lado leste conheceram o que muitos tinham sonhado como
seu Eldorado, e vice-versa.
Longe da temida fuga em massa - a RDA só deixou de existir um ano
depois -, muita gente, de ambos os lados do muro, simplesmente fez o
que sonhara durante muito tempo: visitou ruas próximas que tinham
sido divididas artificialmente 28 anos.
Passados 20 depois, muitos jovens que vivem no território da
extinta Alemanha Oriental sequer sabem quem foi o chefe de Estado
Erich Honecker ou quem construiu o muro, e 10%, segundo pesquisas,
gostariam que nada tivesse mudado. EFE