Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A indústria de soja do Brasil, que lidera as exportações agropecuárias brasileiras e é fornecedora chave para a cadeia de alimentos doméstica, prevê que os gargalos da infraestrutura do país poderão ter uma acentuada piora nos próximos meses diante dos protestos de caminhoneiros, que bloqueavam nesta quarta-feira quase 100 rodovias federais em dez Estados.
Os protestos, que entraram no seu oitavo dia, já afetam a colheita de soja, que está em um momento crucial, e o recebimento do produto pelas indústrias processadoras, assim como a chegada do grão e derivados nos portos de exportação e para as indústrias de ração. Grande parte dos setores da economia estão sendo afetados, incluindo o abastecimento de combustíveis.
Com as manifestações dos caminhoneiros, que pedem menores custos com transportes e tributos, as exportações de soja, farelo e óleo de soja --que só perdem para o minério de ferro na pauta de exportação brasileira-- são ameaçadas justamente em um momento em que ganhariam ritmo, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).
E, mesmo que os protestos sejam suspensos em breve, a expectativa da Abiove é de que haja problemas para normalizar a situação do abastecimento de indústrias e portos, com reflexos nas operações da cadeia exportadora e produtora.
"Vai escoar um monte de soja e milho tudo de uma vez... e a gente não tem armazenagem para segurar tudo isso", afirmou o gerente de economia da Abiove, Daniel Furlan Amaral, em entrevista à Reuters.
Segundo o representante da Abiove, os protestos ainda não chegaram a interromper as exportações de soja, que estão em seu início da temporada do Brasil, porque os portos exportadores tinham algum estoque antes do início das manifestações.
Mas, se os protestos continuarem, a soja que estava armazenada nos portos poderá acabar, prejudicando os embarques e gerando custos adicionais, por conta de multas aplicadas em atrasos no embarque de navios.
Na terça-feira, os manifestantes bloquearam o acesso ao porto de Santos, o principal do país, enquanto o número de caminhões levando soja para o porto de Paranaguá ficou bem aquém do esperado para esta época.
Os contratos futuros da soja operavam em leve baixa nesta quarta-feira, por volta das 12h20 (horário de Brasília), após atingirem uma máxima de seis semanas na terça-feira, com operadores atentos à possibilidade de a demanda global migrar para os Estados Unidos por conta dos protestos no Brasil.
COLHEITA
Os produtores já não conseguem colher em algumas áreas do Mato Grosso, segundo relatos feitos à Reuters, por conta da escassez de diesel que move as colheitadeiras.
Outras áreas do Estado, o maior produtor de soja do Brasil, têm diesel somente para poucos dias.
"Essa falta de diesel vai ser problema de hoje para amanhã... Nossa safra é agora", disse o presidente do Sindicato Rural de Sorriso, Laércio Lenz.
"Muitos postos e varejistas de combustíveis estão desabastecidos."
(Com reportagem adicional de Gustavo Bonato, no Mato Grosso)